O papel do exercício no controle de peso é geralmente associado com o efeito direto do déficit de energia durante a atividade física, que por sua vez cria um balanço energético negativo e leva à perda de peso.
No entanto, é possível que o exercício físico possa influenciar a massa corporal indiretamente, exercendo alguma influência sobre a regulação do apetite (KING, NA et al, 2009).
Em 1956, Mayer et al examinaram a questão da atividade física e seus benefícios para a regulação do balanço energético, e, embora não tenha sido visto nenhum efeito direto sobre o apetite, foi visto no estudo que a atividade física poderia melhorar o equilíbrio de energia por regulação do apetite. Além disso, outros estudos mostram que o exercício poderia melhorar o sistema de regulação do apetite (WILMORE, JH, 1983).
Recentemente, dois hormônios gastrintestinais tem demonstrado relação com o comportamento alimentar em curto prazo: a grelina, um estimulador de apetite em nível de hipotálamo, que trabalha em curta escala de tempo entre refeições (KOJIMA, M; HOSODA, H; DATE, Y, 1999; ARORA, S, 2006) e a leptina, que é um hormônio que age no Sistema Nervoso Central, em particular no hipotálamo, inibindo o consumo alimentar em longo prazo, e estimulando o gasto energético (ZHANG, Y, et al, 1994).
Uma série de estudos, tem sido feitos com a leptina relacionada a atividade física (SUDI, K, et al, 2001; KRAEMER, RR; CHU, H, CASTRACANE, D, 2002), entretanto, o mesmo não procede com o hormônio grelina, sendo compreensível este fato devido o mesmo ser relativamente novo (MOTA, GR; ZANESCO, A, 2007).
Dentre os estudos que abordam a leptina, Olive e Miller (2001) investigaram o efeito de diferentes sessões de exercício sobre os níveis de leptina em homens treinados. Nesse estudo, concluiu-se que exercício prolongado, de moderada intensidade, diminuiu os níveis de leptina, com um atraso de 48h após exercício. No entanto, uma atividade física de curta duração, de intensidade máxima, não afeta os níveis de leptina. Ainda, em um outro estudo realizado por Landt et al (1997) demonstraram que a concentração plasmática de leptina diminuía 32% em ultramaratonistas após atividade extenuante constituída de 101 milhas de corrida, com 35,8 ± 11,1 horas de duração e grande gasto energético.
Em relação à grelina, os poucos estudos realizados com este hormônio mostram que não há alteração plasmática nos níveis de grelina em resposta ao exercício (MOTA, GR; ZANESCO, A, 2007). Um estudo verificou que após um ano de intervenção com exercícios aeróbios em mulheres com sobrepeso, após a menopausa, a concentração plasmática de grelina aumentou. Esse aumento ocorreu mesmo na ausência de dieta ou alterações no consumo energético. Entretanto, segundo os autores, o incremento dos níveis de grelina ocorreu não pelo exercício em si, mas pela perda de peso (FOSTER-SHUBERT, et al, 2005).
Por último, um estudo recente realizado por KING et al (2009) verificou que o efeito do exercício físico sobre a regulação do apetite envolve pelo menos dois processos: aumento da ingestão alimentar e um aumento concomitante na saciedade de uma alimentação.
Sendo assim, é importante que o profissional fique atento à estes avanços da ciência, para que consiga ter uma melhor abordagem com seu paciente.
Referências Bibliográficas
ARORA, S., ANUBHUTI. Role of neuropeptides in appetite regulation and obesity- a review.Neuropeptides, n 40, v 6, p 375-401, 2006.
FOSTER-SCHUBERT, K.E., MCTIERMAN, A., FRAYO, R.S., et al. Human plasma ghrelin levels increase during a one-year exercise program. J Clin Endocrinol Metab, v 90, n 2, p 820-5, 2005.
KOJIMA, M., HOSODA, H., DATE, Y. Ghrelin is a growth-hormonereleasing acylated peptide from stomach. Nature, n 402, p 656-60, 1999.
Kraemer RR, Chu H, Castracane D. Leptin and exercise. Exp Biol Med, n 227, p 701-8, 2002.
LANDT, M., LAWSON, G.M., HELGESON, J.M., et al. Prolonged exercise decreases serum leptin concentrations. Metabolism, n 46, v 10, p 1109-12, 1997.
MAYER, J., ROY, P., MITRA, K.P. Relation between caloric intake, body weight, and physical work: studies in an industrial male population in West Bengal. Am J Clin Nutr , n 4, p 169–74, 1956.
MOTA, G.R.; ZANESCO, A. Leptina, ghrelina e exercício físico. Arq Bras Endocrinol Metab, 51/1, 2007.
NEIL, A.K.; PHILLIPA, P.C.; HOPKINS, M.; et al. Dual-process action of exercise on appetite control:increase in orexigenic drive but improvement in meal-induced satiety. Am J Clin Nutr, n 90, p 921-7, 2009.
OLIVE, J.L.; MILLER, G.D. Differential effects of maximal- and moderate-intensity runs on plasma leptin in healthy trained subjects. Nutrition, n 17, v 5, p 365-9, 2001.
SUDI, K.; JURIMAE, J.; PAYERL, D., et al. Relationship between subcutaneous fatness and leptin in male athletes. Med Sci Sports Exerc, n 33, v 8, p 1324-9, 2001.
WILMORE, J.H. Appetite and body composition consequent to physical activity. Res Q Exerc Sport n 54, p 415–25, 1983.
ZHANG, Y.; PROENÇA, R.; MAFFEI, M.; BARONE, M.; LEOPOLD, L.; FRIEDMAN, J.M. Positional cloning of the mouse obese gene and its human homologue. Nature, n 372, p 425-32, 1994.
Fonte: RG.
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