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DEFICIÊNCIA DE FERRO E AUMENTO DO CONSUMO DE ALIMENTOS PROCESSADOS AGRAVAM PROBLEMAS DE NUTRIÇÃO NO BRASIL.

sábado, 28 de novembro de 2015
Duas palestras complementares organizadas pelo FoRC (Food Research Center) abordaram nutrição e segurança alimentar na Amazônia durante o minisimpósio “Transição Nutricional no Brasil”, no dia 19 de novembro. O evento, coordenado pelo professor Chris Hoffmann, contou com duas palestrantes: a norte-americana Barbara Piperata, da Universidade Estadual de Ohio e a professora Marly Augusto Cardoso, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Barbara abordou a situação de ribeirinhos residentes na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, e o impacto causado pela chegada do Bolsa Família (bem como pelo aumento da circulação de renda oriunda de outras fontes, como aposentadorias, por exemplo). Já Marly apresentou resultados de levantamentos feitos no Acre para falar sobre os desafios da nutrição infantil: ela trabalhou em Acrelândia, com crianças de dez anos ou menos, entre 2007 e 2012.

Segundo a professora da FSP, embora tenha ocorrido uma redução dos índices de anemia na população estudada entre 2003 e 2007 (sobretudo os mais velhos), a deficiência de ferro não caiu. “Trata-se de um problema mundial. Sabemos que entre 66% e 80% da população do globo tem deficiência de ferro. Em nosso País, apesar da melhora, persistem ainda altas taxas de anemia na infância. Além do mais, no Brasil, os avanços na melhoria da saúde infantil não aconteceram de maneira igual em todas as regiões. No Norte, por exemplo, elas foram de ordem menor do que no restante do território”, afirmou.

De acordo com Marly, o Brasil precisa endereçar a dupla carga de má nutrição e insegurança alimenta e nutricional, advinda do consumo insuficiente de alimentos naturalmente ricos em vitaminas e minerais aliado à pobreza e à falta de cuidados com a saúde. “A disponibilidade de frutas e verduras no mercado local, em Acrelândia, ainda é pequena se comparada à oferta de produtos industrializados. As crianças consomem muito refrigerante, pois é barato e, teoricamente seguro, já que as mães não confiam na água do local”, exemplifica.

Em sua apresentação, ela citou uma análise da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) de 2002 a 2009 mostrando que, de maneira geral, houve aumento de consumo de alimentos processados pelos brasileiros e diminuição do consumo de alimentos tradicionais. Essa transição na dieta é objeto de preocupação de nutricionistas e profissionais de saúde.

Barbara Piperata, em seu estudo de caso com os ribeirinhos paraenses, confirmou essa observação. Ela comparou dados das dietas de sete comunidades, colhidos em 2002 e em 2009. “A maior mudança foi a fonte dos alimentos. Os ribeirinhos começaram a comer muitas coisas compradas: feijão, arroz, bolacha, charque, carne enlatada, mortadela, frango congelado...”.

Segundo ela, em 2002, quatro das cinco principais fontes de energia (mandioca, açaí, peixe e outros frutos) eram produzidas localmente. Em 2009, três das cinco principais fontes de energia (feijão, arroz, e bolachas) eram compradas. Em 2002, o açaí, uma fruta local, ficava em segundo lugar entre as fontes mais importantes de carboidratos, seguido por açúcar, café e arroz (todos comprados). Em 2009, com exceção da mandioca, todas as fontes de carboidratos (arroz, café, bolachas, e feijão) eram compradas fora das comunidades.

Para Marly, os desafios para nutrição infantil no Brasil incluem, além da deficiência de micronutrientes, infecções e desnutrição, também o combate à obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis, agravado com o consumo massivo de alimentos processados. Ela salienta a importância dos primeiros dois anos de vida da criança para sua saúde na vida adulta. “Crianças menores de dois anos têm mais vulnerabilidade à deficiência de micronutrientes. Nos primeiros dois anos é preciso prevenir o déficit de crescimento e a subnutrição. Daí por diante, e até a vida adulta, o foco é prevenir o ganho rápido de peso e a obesidade.”

Fonte: USP.

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