Um estudo feito por pesquisadores brasileiros e publicado há alguns anos na revista BMC Pediatrics mostra que a alergia ao leite de vaca não é uma condição rara na população infantil. De 9.458 crianças avaliadas em todo o país, 5,4% apresentaram alergia à proteína do leite de vaca. O que pouca gente sabe é que as crianças alérgicas podem começar a ter problemas já no período de amamentação, quando ainda não ingerem diretamente o leite de vaca.
“O bebê não é alérgico ao leite da mãe e sim às proteínas alergênicas do leite de vaca que a mãe ingere, e que passam para o leite materno. Mas este alimento só será alergênico para crianças atópicas, ou seja, aquelas que têm predisposição genética a alergias, já que filhos de pais e mães alérgicos têm mais chances de desenvolver a condição”, explica a doutora em nutrição Maria Carolina von Atzingen, da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Por isso, segundo ela, não há restrição em relação à ingestão de leite de vaca por mulheres que amamentam.
“Agora, caso essa condição seja diagnosticada no bebê, inicialmente, a mãe é orientada a excluir leite e derivados da própria dieta e continuar a amamentar. Muitas vezes, essa conduta não traz resultados favoráveis. Para esses casos, existem fórmulas industrializadas específicas com baixo potencial alergênico ou totalmente hipoalergênicas que podem ser empregadas na alimentação do bebê”, esclarece Maria Carolina.
Como opções, ela cita fórmulas à base de soja, fórmulas à base de leite de vaca extensamente hidrolisadas, ou ainda aquelas à base de aminoácidos (totalmente hipoalergênicas). “O direcionamento em relação à fórmula mais indicada está relacionado ao tipo de processo alérgico e à idade do bebê. Crianças menores de 6 meses, por exemplo, não devem receber fórmulas à base de soja.” Ela ressalta que é importante garantir um aporte energético e nutricional adequado ao bebê para que a criança se desenvolva apropriadamente. “É necessário um acompanhamento com um especialista para o direcionamento em relação à melhor fórmula a ser utilizada.”
Diagnóstico – Maria Carolina afirma que o diagnóstico desse tipo de alergia pode ser feito por vários exames e procedimentos (basicamente os mesmos usados para diagnosticar alergias alimentares em geral): testes cutâneos, teste de provocação oral, além do histórico clínico do bebê. De acordo com a nutricionista, os sintomas relacionados aos processos alérgicos envolvem manchas avermelhadas pelo corpo, urticária, angioedema , tosse, vômitos e diarreia. Eles podem aparecer de forma imediata, logo após a ingestão do alimento, bem como horas ou até dias após a ingestão.
Existe ainda, de acordo com a nutricionista, uma condição rara conhecida por intolerância à lactose do tipo congênita, que foi descrita apenas na Finlândia. “Trata-se de um déficit enzimático presente no indivíduo desde o nascimento. Neste caso, a partir do momento que o bebê começa a tomar o leite materno já desenvolve os sintomas associados à intolerância. Entretanto, na maior parte dos casos, o que ocorre é a hipolactasia primária do tipo adulto, na qual a enzima necessária para a digestão da lactose deixa de ser produzida com o passar do tempo.”
Fonte: Alimentos sem mitos.