Será que dá para riscar a carne do cardápio do corredor — e até todos os alimentos que têm origem animal, como ovos, leite e derivados, como fazem os chamados “vegans”? E é possível fazer isso sem prejudicar a disposição e o desempenho na corrida? Essa é uma questão complexa, e não há consenso entre os nutricionistas (veja coluna ao lado). Certo é que o corredor vegetariano deve tomar cuidados especiais. Não pode, por exemplo, apenas substituir o bife por massa e batata. Essa dieta desbalanceada traria deficiência de proteína, ferro, cálcio, zinco e vitamina B12, nutrientes essenciais para um esportista. É preciso encontrar novas fontes para essas substâncias.
O corredor Dárcio Joel Ferreira dos Santos, de 34 anos, parou de comer carne há nove anos. Ele é lactovegetariano — não come nem carne nem ovos, mas ingere leite e derivados — e já encarou pedreiras como o Desafio Praias e Trilhas, ultramaratona de 84 km em Florianópolis. “Nunca passei mal e meu rendimento é bom”, afirma o atleta, que consultou uma nutricionista. Ele conta que sempre come um alimento do grupo das leguminosas (o feijão, por exemplo) com um cereal (o arroz). “Isso aumenta o nível de proteína no organismo”, diz. Sua cesta básica inclui soja e derivados, grão-de-bico, quinua, além de muitas frutas, verduras e queijo.
A nutricionista Fabiana Honda, especialista em fisiologia do exercício pela Unifesp, diz que a dieta vegetariana, se bem administrada e monitorada, pode trazer benefícios. “Em geral, ela possui maior quantidade de frutas, verduras, fibras e antioxidantes, o que melhora o equilíbrio do corpo e aumenta a longevidade”, afirma.
O corredor não-carnívoro deve também adequar a dieta a seu tipo de treinamento. Uma planilha preparatória para uma prova de 10 km, por exemplo, pede doses de carboidratos e proteínas diferentes daquelas necessárias a um plano de maratona. “O consumo de carne não é essencial, basta o atleta ter informação e saber fazer as adaptações corretas”, afirma o nutricionista George Guimarães, especialista em dieta clínica pela Universidade São Camilo e adepto do veganismo.
S.O.S. bife
Parte dos profissionais consultados pela Runner’s World acredita que a carne e os derivados animais não deveriam ser cortados da dieta do corredor. A principal questão gira em torno da absorção — a maioria dos nutrientes de fontes vegetais não tem boa biodisponibilidade, ou seja, não são tão bem aproveitados pelo organismo como os de origem animal. “É preciso planejamento e consciência de que essa mudança muitas vezes não trará benefícios, mas, feita com cuidado, poderá se igualar à dieta que inclui carnes”, afirma a nutricionista Suzana Bonumá, especialista em fisiologia do esporte do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Para isso, o corredor vegetariano pode consumir maior quantidade de nutrientes vindos dos vegetais (para garantir a absorção na quantidade ideal), bem como fazer combinações — como uma leguminosa (o feijão) e um cereal (o arroz) — para aproveitar melhor o potencial desses alimentos.
Especialistas apontam outra opção para suprir as carências: ingerir suplementos alimentares, desde que com a devida orientação de médicos e nutricionistas. Os vegans precisam de cuidado redobrado. No caso da vitamina B12, os suplementos seriam a única opção, já que ela só é encontrada nos derivados animais. “E a falta pode gerar problemas de memória e fraqueza muscular, já que ela atua no sistema nervoso”, afirma Márcio Mancini, endocrinologista do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Eles também devem ficar atentos à quantidade diária de glutamina, aminoácido presente nas principais fontes de proteína animal e vegetal (como a carne e a soja). “Sem um estoque dela, há dificuldade na hora de regenerar músculos e até na recuperação de lesões”, afirma o neurocientista Cícero Galli Coimbra, da Unifesp. Para ele, o corredor vegetariano deveria consumir 0,5 grama de glutamina por quilo corporal por dia.
Fonte: Runners World, A carne é fraca? Vegetarianismo e corrida podem andar juntos. Acesso em 10/09/2013.
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