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JÁ OUVIU FALAR EM NUTRICOSMÉTICOS?

quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Nutricosméticos. Já ouviu falar disso? Não adianta buscar no dicionário.
A rigor, a palavra não existe em português, mas tem sido empregada rotineiramente no balcão da farmácia, nos consultórios e em encontros internacionais de dermatologia para descrever o mais recente fenômeno mundial no campo da beleza. São pílulas multicoloridas que contêm uma associação de vitaminas, minerais, carotenoides e flavonoides, entre outras substâncias, com a missão de combater as carências nutricionais, a oxidação dos tecidos e estimular as funções da pele para restaurar a beleza do corpo e do rosto. “Esse conceito surgiu da necessidade de nutrir internamente a pele, o que nem sempre pode ser feito pelos cremes de forma tópica”, disse à ISTOÉ a dermatologista americana Zoe Draelos, professora de dermatologia da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Ela é considerada uma referência mundial nesse tema. Por isso, sua palestra no último encontro da Academia Americana de Dermatologia, realizado no mês passado em San Diego, na Califórnia, estava com lotação esgotada semanas antes do evento. “Só agora estamos entendendo melhor a importância da dieta para uma pele saudável e bonita”, complementou.


O sinal mais claro da força de atração exercida pelos nutricosméticos é sua crescente expansão no mercado mundial. Em 2010, esses artigos movimentaram US$ 2,4 bilhões, segundo o IMS Health, instituto que registra números e índices do mercado da saúde. E a previsão é de que dentro de cinco anos esse montante duplique, atingindo a marca dos US$ 4,24 bilhões em 2017, de acordo com a Global Industry Analysts, outra empresa de dados de mercado. No Brasil, os produtos pertencem à categoria dos suplementos alimentares, um setor estimado em US$ 400 milhões, segundo a Euromonitor International, empresa que acompanha a evolução do segmento. Por enquanto, os chamados cosméticos orais representam US$ 13 milhões desse volume total de vendas. “Mas há um longo caminho a ser conquistado pelos nutricosméticos no Brasil”, observa a analista Carrie Leonard, do Euromonitor International. A líder do mercado no País foi a L’Oréal, com sua marca Innéov. Neste ano, ela terá que concorrer com a Sanofi-Aventis, que adquiriu as cápsulas Oenobiol, e a Pfizer, que comprou o laboratório Ferrosan e a sua pílula Imedeen. Dados divulgados pelo IMS Health dão uma ideia de como será essa multiplicação de mercado. Segundo a agência, a estimativa de crescimento do setor por aqui é de 220% até 2015. “O Brasil é um excelente mercado”, diz Délio de Oliveira, diretor-geral da Divisão Cosmética Ativa da L’Oréal, empresa que tem centros de pesquisa voltados para a criação dessas pílulas.
Os números são expressivos, mas a questão central é o que realmente se pode esperar desses comprimidos. Boa parte dos especialistas considera os nutricosméticos um recurso interessante. “Trata-se de um conceito de beleza de dentro para fora, que associa a boa condição da pele com a saúde”, afirma a dermatologista Mônica Aribi, de São Paulo. “É um avanço”, diz. Ela indica os produtos a uma clientela mais predisposta a aceitar novas soluções para melhorar a aparência.
 
Mas os nutricosméticos seriam, de fato, diferentes dos já bem conhecidos suplementos vitamínicos ou representam apenas uma roupinha nova para uma ideia antiga? “Em geral, eles oferecem minerais e vitaminas em uma forma química que permite a melhor absorção pelo organismo”, diz a nutricionista, farmacêutica e bioquímica Lucyanna Kalluf, do Instituto de Prevenção Personalizada, em São Paulo. “Muitas vezes, os suplementos contêm vitaminas e minerais em um formato de metabolização mais difícil, e por isso muito se perde”, complementa a especialista. Ela costuma indicar também outros minerais e fitoterápicos para complementar o tratamento. “Prefiro selecionar os nutrientes de forma mais personalizada”, explica.

A maioria dos nutricosméticos possui em sua composição as chamadas substâncias antioxidantes. São compostos como as vitaminas A, C e E, o licopeno (presente no tomate em maior quantidade), os bioflavonoides (encontrados nas frutas cítricas e uvas escuras), as catequinas (presentes no chá-verde, e em frutas como uvas e morango, entre outras), o ácido fenólico (está no brócolis, na cenoura e nos grãos integrais) e a quercetina (nas cascas das uvas e nos vinhos). Na literatura científica, eles aparecem como recursos capazes de prevenir o envelhecimento precoce das células por meio de um mecanismo razoavelmente complexo. “Eles combatem a oxidação dos tecidos, o que leva ao envelhecimento”, resume a dermatologista Mônica Aribi.

A oxidação é atribuída aos radicais livres, moléculas que se formam por uma reação natural do organismo ao processo de queima do oxigênio pelas células. Como são instáveis, rapidamente se associam às moléculas próximas, o que pode levar a danos em células sadias. Em 99% dos casos, o corpo repara esses estragos. Mas, se a produção de radicais livres aumentar muito, incentivada por doenças, alimentação ruim, radiação ultravioleta do sol ou fumo, entre outros agressores, fica difícil neutralizar as consequências de seu acúmulo – manchas na pele, rugas, falta de hidratação, entre outras. Aí é que entram em cena as doses adicionais de substâncias antioxidantes: “As vitaminas, minerais como o selênio e compostos como o licopeno, entre outros com funções antioxidantes, se ligam aos radicais livres, anulando sua ação”, explica Lucyanna.
 
Até agora, no entanto, ainda não são definitivos os trabalhos científicos para comprovar a ação dos produtos que contêm substâncias do gênero. “Existem estudos em ciência básica de excelente qualidade metodológica, mas há pouquíssimos trabalhos em seres humanos feitos com grupos para comparação. Isso é necessário para demonstrar a real eficácia”, diz Ediléia Bagatin, pesquisadora e especialista em cosmiatria, da Universidade Federal de São Paulo. “E é fundamental que sejam realizadas pesquisas independentes, que não sejam financiadas pelos fabricantes, evitando-se o conflito de interesses, para se chegar a alguma conclusão”, afirma.

Além disso, os cientistas estão se deparando com desafios científicos para apurar a intensidade do desempenho desses produtos. “Ainda não temos bons métodos para avaliar a presença e a redução dos radicais livres na pele humana”, afirma a especialista Zoe Draelos.
 
O sinal mais claro da força de atração exercida pelos nutricosméticos é sua crescente expansão no mercado mundial. Em 2010, esses artigos movimentaram US$ 2,4 bilhões, segundo o IMS Health, instituto que registra números e índices do mercado da saúde. E a previsão é de que dentro de cinco anos esse montante duplique, atingindo a marca dos US$ 4,24 bilhões em 2017, de acordo com a Global Industry Analysts, outra empresa de dados de mercado.
Para embasar suas indicações, os dermatologistas que recomendam esses produtos associam as evidências oferecidas pelos estudos disponíveis às suas observações feitas em consultório. “Há cápsulas que ajudam, por exemplo, a estabilizar a flora da pele, o que auxilia o combate à dermatite. Os efeitos são maravilhosos”, diz a dermatologista Mônica Aribi, que também aposta nos protetores solares. “São muito bons para pessoas com manchas na pele resistentes aos tratamentos, como os melasmas.” Ela adverte que tomar essas substâncias por via oral para atenuar o fotoenvelhecimento não dispensa a aplicação do filtro sobre a pele. “O filtro bloqueia a ação dos raios, o nutricosmético reduz o ataque dos radicais livres”, diz.

Com a expansão dos nutricosméticos, cresce também entre os médicos a preocupação em alertar para aspectos que não podem ser ignorados. “Os efeitos só começam a aparecer depois de pelo menos três meses de uso regular”, esclarece a dermatologista Carolina Marçon, de São Paulo. Além disso, é sabido entre os especialistas que esses produtos só agem se a pessoa apresentar uma deficiência nutricional. Num padrão ideal, os antioxidantes que o organismo requer para a batalha contra os radicais livres seriam fornecidos por uma dieta equilibrada. “Mas é muito difícil obter tudo o que precisamos da alimentação”, afirma a nutricionista.
Um erro comum no consumo desses produtos é ignorar as contra-indicações. “É essencial averiguar se o paciente é alérgico a algum alimento”, orienta a dermatologista Juliana Neiva, do Rio de Janeiro. “Há cápsulas que contêm ômega 3 e componentes tirados de frutos do mar aos quais algumas pessoas são alérgicas”, diz. Os produtos da linha Imedeen, por exemplo, trazem um composto de proteínas de origem marinha. A dermatologista Adriana Vilarinho, de São Paulo, diz que também é indispensável conhecer o perfil da saúde do paciente e saber se é diabético, por exemplo. “Há açúcares contidos no material de algumas cápsulas que podem causar alterações nas taxas de glicemia no sangue. Isso precisa ser considerado.”
 
É verdade. Tomar os cosméticos orais por conta própria é uma conduta criticada por médicos e nutricionistas. “Há muitos casos de pessoas que recorrem a mais de um suplemento ao mesmo tempo porque querem tratar a celulite e o cabelo. Isso pode ter efeitos indesejados”, alerta a dermatologista Adriana Vilarinho.
 
É por essa razão que nos consultórios mais estrelados de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, a indicação de um nutricosmético passa por várias etapas. “É preciso descartar causas de queda de cabelo como doenças e carências de minerais como o ferro, que não estão presentes nessas fórmulas”, diz a dermatologista Carolina Marçon, de São Paulo. A nutricionista Lucyanna Kalluf também não dispensa exames para avaliar quais são realmente os minerais em carência. “Não se pode indicar cápsulas de nutricosméticos sem solicitar um teste de sangue para saber do que e de quanto o paciente precisa”, diz ela.
Esses cuidados são importantes também para evitar a ingestão excessiva de vitaminas e minerais. “Quem ingere vitamina A demais, por exemplo, por alimentação ou suplementação, pode ter sintomas como pele seca, áspera e descamativa, dores de cabeça e náuseas”, diz a especialista Lucyanna.
 
Também é preciso ter em mente, quando se recorre aos nutricosméticos, que eles são parte de um tratamento mais amplo. Não realizam milagres sozinhos. Por isso, não se pode esperar que apenas uma pílula acabe com as rugas do rosto ou faça desaparecer os furinhos da celulite. “A celulite, por exemplo, é causada por diversos fatores. Quem se decide a enfrentá-la precisa também modificar diversos padrões. O nutricosmético será mais um item. Senão, não vai adiantar nada”, explica a dermatologista Carolina. No tratamento de linhas de expressão, é o mesmo processo. Os produtos não substituem o creme anti-idade. “Mas potencializam seu efeito”, afirma a farmacêutica carioca Talita Pizza, que defendeu tese de mestrado sobre os nutricosméticos na Universidade de São Paulo.
Atentos ao interesse manifestado por esses produtos, pesquisadores da Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido, estão aproveitando a onda para incentivar o consumo de nutrientes in natura. Recentemente, eles publicaram um estudo na revista “American Journal of Public Health” comprovando que comer mais frutas e vegetais pode mudar o tom da pele, dando-lhe mais brilho. “Nossa mais recente pesquisa constata que as melhorias na dieta produzem benefícios visíveis para a pele”, disse Ross Whitehead, autor do estudo que envolveu 35 estudantes, acompanhados por seis semanas. “As pessoas que comem mais frutas e verduras têm um tom dourado na pele que dá uma aparência mais saudável e atraente”, complementou. A grande sacada desses pesquisadores, porém, é que a vaidade pode ser um excelente motivador para melhorar a nutrição. O estudo acabou estimulando o grupo a seguir uma alimentação mais saudável.

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PESQUISA
Na L’Oréal, há centros de estudo para criar nutricosméticos.
 
 
 
Fonte: Istoé, Beleza em cápsulas. Pílulas contendo nutrientes consagram-se como o mais novo fenômeno da beleza e são indicadas por médicos para atenuar rugas, melhorar o viço da pele, combater a celulite e fortalecer unhas e cabelos, entre outros efeitos. Acesso em 29/08/2012.

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