Proteína estrutural do trigo, cevada e centeio, o glúten é base para alguns dos pratos mais saboreados em todo o mundo. Quem discorda que um pãozinho crocante ou um bela massa com molho de tomate são das coisas mais deliciosas do universo? Estes prazeres são inofensivos à maioria das pessoas, mas podem representar um risco à saúde para quem é alérgico ou intolerante ao glúten.
Primeiro: é preciso diferenciar a simples intolerância da doença celíaca, que é a inflamação da mucosa intestinal pelo contato com o glúten, prejudicando a absorção dos alimentos e ocasionando inúmeros problemas de saúde. No Brasil, cerca de dois milhões de pessoas já são consideradas celíacos, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA). A doença celíaca ocorre por uma predisposição genética e o paciente precisa retirar qualquer vestígio da proteína da alimentação, para manter-se saudável. Já os intolerantes não podem ser considerados celíacos, pois são capazes de tolerar e processar o glúten, apesar dos sintomas desagradáveis provocados por sua ingestão.
Segundo a nutricionista Angelina Zapponi, pós-graduada em nutrição clínica funcional e membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional, o número de pessoas intolerantes ao glúten pode estar, sim, aumentando. Um dos motivos pode ser as alterações genéticas feitas no trigo ao longo dos últimos 50 anos, aumentando o teor de glúten nos grãos. Somado a isso, ela cita também o aumento no consumo de alimentos que contenham a proteína.
– Pesquisas da Embrapa comprovaram um aumento no consumo de trigo por habitante de 30 para 60 quilos por ano. Associado à um decréscimo no consumo de alimentos protetores como frutas, verduras e legumes, esse desequilíbrio no comportamento alimentar está desencadeando o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, como a intolerância, além de sintomas físicos, mentais e emocionais – comenta Angelina.
A soma de grãos geneticamente modificados com os hábitos alimentares modernos, com muita comida industrializada e fast food, pode estar contribuindo para o aparecimento dos intolerantes ao glúten. Apesar de não serem considerados celíacos, sofrem com sintomas que, na maioria das vezes, desaparecem com a redução ou o corte no consumo de produtos feitos a base de trigo, cevada ou centeio.
Ficou em dúvida e acha que pode ser intolerante à proteína? Verifique cinco sinais que podem sinalizar o problema, apontados pela nutricionista Angelina Zapponi. Se você se identificou com algum deles, não saia simplesmente cortando o pão da dieta. Procure a ajuda do médico e do nutricionista para entender o seu caso.
Cinco sinais que podem indicar intolerância ao glúten
- Problemas gástricos – diarreias, prisão de ventre, produção excessiva de gases, estufamento abdominal e refluxo são exemplos desse tipo de problema. Se o corpo é intolerante ao glúten, ao consumi-lo o organismo não consegue digerir a proteína, respondendo com esses sintomas indesejados.
- Enxaqueca – o glúten pode atrapalhar o metabolismo do corpo humano. Com o funcionamento mais lento, o organismo não consegue eliminar toxinas e favorece o aparecimento de dores de cabeça e enxaqueca.
- Distúrbios neurológicos e energéticos – fadiga, confusão, alteração de humor, depressão ou cansaço – são sintomas mais comuns e podem aparecer principalmente após o consumo de glúten. A explicação é a dificuldade em absorver nutrientes causada pelos danos na mucosa intestinal.
- Resistência insulínica e diabetes – o trigo possui a capacidade de elevar os níveis de glicose no sangue – o que dá início à montanha russa de glicose e insulina que estimula o apetite e promove acúmulo de gordura visceral. O ganho de peso leva à uma alteração na sensibilidade à insulina, condição fundamental para o desenvolvimento do diabetes.
- Ansiedade, compulsão alimentar – as exorfinas derivadas do glúten têm potencial para gerar euforia, dependência e estimular o apetite.
Aveia – no fundo, ela é inocente
Aí você se descobre intolerante a glúten e precisa cortar o consumo de um dos grãos mais saudáveis que existem, a aveia. Afinal, você lê em todas as embalagens do cereal no supermercado o famigerado Contém Glúten. Calma. Antes que bata o desespero por não poder comer a sua aveia com banana matinal, saiba que o grão é, naturalmente, livre de glúten. Isso quer dizer que na composição bioquímica da aveia não há esta proteína. Mas por que, então, as embalagens apontam a presença de glúten?
Plantada e beneficiada junto com o trigo, o centeio e a cevada, a aveia sofre uma espécie de contaminação pelo glúten dos outros grãos. Basta que ela seja plantada no mesmo campo ou processada nas mesmas máquinas que os cereais ricos em glúten para que também apresente traços da proteína em sua composição.
Nos Estados Unidos, muitas marcas já processam a aveia separadamente para livrá-la do glúten. No Brasil isso ainda é raro, mas é possível encontrar aveia orgânica e completamente livre de glúten em casas especializadas em produtos naturais. É mais cara que a comum, mas vale a pena.´
Fonte: Revista Donna.
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