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É POSSÍVEL TREINAR O CÉREBRO?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Algumas pesquisas da Neurologia Cog­nitiva mostram que praticar atividade física aeróbica regular, dança, jogos de tabuleiro, ioga, leitura, tocar um instrumento musical e manter atividades de lazer com estímulo cognitivo também são instrumentos protetores nos quadros de declínio e garantem o melhor funcionamento do cérebro durante o envelhecimento.

Especialistas garantem que exercícios podem ajudar a melhorar o raciocínio e a memória.
Matriz do sistema nervoso, o cérebro é o principal centro de regulação e controle das atividades corporais, dos movimentos, da consciência, do pensamento, da memória e da emoção, e é o encarregado em receber e interpretar os inúmeros sinais enviados pelo organismo. Com suas funções, preserva e melhora a vida por meio de adaptações, quase que instantâneas, ao meio externo. Para evitar degradações gerais e estimular ações específicas, especialistas recomendam tanto a prática de exercícios físicos quanto mentais, que exijam esforços planejados e estimulem as principais funções cerebrais. Além disso, sugerem que a prática regular de exercícios é capaz de reduzir o impacto do envelhecimento sobre o funcionamento cerebral, frequentemente associado a dificuldades de memória e à lentidão de raciocínio.
O artigo científico ‘Treino Cerebral para Adultos’, dos pesquisadores Simone Maidel e Igor Reszka Pinheiro, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresenta evidências que fortalecem a ideia de que a prática do treino cerebral pode ser útil tanto em pacientes saudáveis (para prevenção) quanto em indivíduos com variados graus de comprometimento cognitivo, no sentido da reabilitação. Segundo a psicóloga Simone Maidel, mestre em Neurociên­­cias e doutora em Psicologia pela UFSC, o princípio é o mesmo da reabilitação cognitiva. “O funcionamen­to do cérebro e suas relações com o comportamento e as emoções humanas per­­mi­tem inferir que, com o treino, há um fortalecimento e/ou reconfiguração em determinadas vias neuronais, de modo que as estratégias utilizadas na resolução das atividades propostas passarão, com o tempo, a integrar naturalmente o repertório de raciocínio e comportamento do indivíduo em outras situações”, explica.

A especialista ressalta que resultados positivos já são observados em pacientes com vários graus de déficits e disfunções cognitivas decorrentes de alguma doen­ça, lesão ou acidente, incluindo a melhoria no desempenho de habilidades como atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades aca­dêmicas, processamento da informação, afeto, funções motoras e executivas. “Esses resultados ­são­ encorajadores para o uso do treino cerebral como um meio de prevenção às disfunções associadas ao processo de envelhecimento normal ou patológico”, reforça.

Embora o uso de exercícios, como caça-palavras, quebra-cabeças ou jogos de memória, seja potencialmente capaz de promover alterações em estruturas neuronais, o treino cerebral é um processo que requer método e persistência, pois o que mantém o cérebro ativo e saudável são estímulos constantes, inéditos e desafiadores. “Um só tipo de exercício deixará, ao longo do tempo, de ser desafiador e não terá o efeito esperado, da mesma forma que um número excessivo de exercícios desordenados também não terá efeito”, ressalta. Além disso, refletir e correlacionar fatos e acontecimentos com as atividades da vida, experimentar atitudes, sabores, odores e texturas novos, aprender a fazer novas atividades e esportes, cultivar um lazer, investir em amizades e laços afetivos duradouros são boas maneiras de auxiliar diariamente o cérebro a utilizar e desenvolver melhor as suas habilidades.

Para Igor Reszka Pinheiro, especialista em práticas pedagógicas interdisciplinares e doutor em Psicologia pela UFSC, outras atividades para o treinamento são os exercícios de tomada de decisão e de consciência das emoções. “Tomar uma decisão é fazer uma escolha, o que para muitos é uma tarefa árdua. A maneira mais fácil de estimulá-la é recorrer a jogos de aposta probabilística, como os de carta e tabuleiro, que reforçam o contato social e catalisam as funções executivas”, sugere. Já a tomada de consciência das emoções possibilita melhorar o raciocínio, em vez de ofuscá-lo como normalmente ocorre. Neste contexto, a única técnica é a fala, que só se torna coerente quando organizada claramente, possibilitando a identificação dos sentimentos.
Algumas pesquisas da Neurologia Cog­nitiva mostram que praticar atividade física aeróbica regular, dança, jogos de tabuleiro, ioga, leitura, tocar um instrumento musical e manter atividades de lazer com estímulo cognitivo também são instrumentos protetores nos quadros de declínio e garantem o melhor funcionamento do cérebro durante o envelhecimento. “Se aliar o controle de doenças como hipertensão arterial e diabetes à dieta equilibrada com alto consumo de frutas, vegetais, legumes, cereais e ácidos graxos insaturados, os efeitos podem ser ainda mais positivos”, ressalta a neurologista Jerusa Smid, do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

Segundo a neurologista, a principal enfermidade associada à perda de memória é a doença de Alzheimer, cujo principal fa­tor de risco é o envelhecimento. “O conhecimento no campo da Neurologia e da Neurociência avançou muito nas últimas décadas, mas ainda há questões não respondidas. O que se sabe, de fato, é que existem inúmeros estudos mostran­do que atividades cognitivas, como os treinamentos cerebrais, podem evitar o surgimento de demência, entre elas a doen­ça de Alzhei­mer, em uma determinada população”, ressalta.

Inimigos
Alguns fatores colaboram para que me­mória e raciocínio não trabalhem adequadamente, como o consumo excessivo de álcool, tanto agudo como crônico, e o uso de drogas ilícitas. Tabagismo e doenças que aumentam o risco cerebrovascular, como hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia, também são associados ao prejuízo da atividade cerebral. A neuro­lo­­gista Jerusa Smid inclui na lista de fa­tores de risco a carência de vitamina B12,­ dis­túrbios do sono, renais, he­­­­­­­­­pá­ticos e tireoidianos. “Como não há me­dicações preventivas para manter o cé­rebro sadio, adotar hábitos saudá­veis, praticar exercícios físicos aeróbicos regularmente, controlar doenças sistêmicas e incluir na rotina atividades de lazer que estimulem a cognição, como as cita­das­­­­­­­­­ anteriormente, são fundamentais”, orienta.

Fonte: Yakult, Super Saudável, edição 53.

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