Em 1994, o comitê em aspectos médicos de controle de alimentos publicou um relato com evidências em vários determinantes nutricionais da doença cardíaca. Um destes foi o efeito benéfico do óleo de peixe e seus constituintes, incluindo ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 na agregação plaquetária e tendência a inibir a trombose.
A recomendação diária emergente desta discussão em particular foi de 0.2g de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3. Desde então, evidência extensa tem sido publicada com referência aos benefícios à saúde do óleo de peixe e seus constituintes, os ácidos graxos docosahexaenóico (DHA) e eicosapentaenóico (EPA).
Os ácidos graxos, tipicamente, têm sempre número de átomos de carbono, variando de 16 a 26. Os com ligações simples entre átomos de carbono adjacentes são chamados de saturados, enquanto que os com pelo menos uma dupla ligação C=C são chamados insaturados.
Os ácidos graxos poliinsaturados têm duas ou mais dessas ligações na sua cadeia. O DHA (20:6), como exemplo, é um ácido graxo ômega-3 com 22 átomos de carbono e seis duplas ligações. O termo ômega-3 indica que, contando do metil terminal da molécula, a primeira dupla ligação está localizada entre o terceiro e o quarto carbono.
DHA e EPA são sintetizados pelo precursor ômega-3 ácidos alfa-linolênico (ALA), enquanto ácidos graxos poliinsaturados ômega-6, como o ácido araquidônico (AA) são sintetizados a partir do precursor ácido linoléico (LA). ALA e LA são essenciais na dieta humana, pois nenhum desses pode ser sintetizado endogenamente por humanos; e as famílias de ômega-3/ômega-6 não podem ser interconvertidas.
Na teoria, a habilidade para converter ALA a EPA e DHA significa que humanos não têm necessidade de suplementar de forma exógena estes ácidos. Entretanto há duas razões pelas quais isto não é uma verdade definitiva. Primeiro, o caminho de síntese para ambas famílias de ômega-3 e 6 utilizam a enzima delta-6-desaturase. Esta enzima, que é vital para conversão de ALA a DHA e EPA, tem preferência por ALA, mas a presença de altos níveis de LA pode trocar as atividades que convertem ALA a EPA e DHA e, possivelmente, diminuir o nível plasmático desses ácidos.
Trabalho de revisão publicado este ano por Ruxton e colaboradores, no Journal of Nutritional and Dietetics, traz a atualização sobre o uso dos ácidos graxos ômega-3 em saúde humana, sintetizados a seguir:
Doença cardiovascular
A doença cardiovascular é comum no mundo ocidental. Informações sobre esta patologia e dieta têm mostrado tendência a focar em ácidos graxos saturados e poliinsaturados. Estudo epidemiológico por Hu e cols, realizado com 84.688 mulheres, encontrou que a morte por doença cardiovascular é 50% menor em consumidores que ingerem peixe cinco vezes por semana. Trabalhos clínicos de distribuição aleatória e controlados têm demonstrado que os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 têm papel na prevenção secundária de doença cardiovascular.
Doença inflamatória
Há evidências crescentes de estudos em animais e humanos que os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 têm um efeito imunomodulador em várias patologias associadas à inflamação, como artrite reumatóide, doença de Crohn, colite ulcerativa, psoríase, asma, lúpus e fibrose cística. Na doença inflamatória intestinal, evidências dos efeitos de óleo de peixe na condição são conflitantes. Estudos de distribuição aleatória em concentrações variadas têm relatado ou melhora significativa ou efeito leve ou moderado na colite ulcerativa ativa, porém efeito modesto na recorrência da doença.
Já uma revisão do Cochrane sobre o efeito de ômega-3 na asma encontrou melhora dos sintomas e uso de medicação, porém sem efeitos consistentes. Não foi encontrado nenhum risco, sugerindo o suplemento ser seguro a esses pacientes. Na artrite reumatóide os efeitos de suplemento de ômega-3 têm demonstrado modular o sistema imune e reduzir a ação de compostos inflamatórios.
Sistema nervoso central
Informações na função de DHA no cérebro foram obtidas de animais experimentais, porém dado a importância de DHA no desenvolvimento precoce do cérebro, tem sido aceito como lógico que o estado pobre de ômega-3 tem efeito adverso no bebê.
Um estudo de distribuição aleatória em mulheres grávidas usando ômega-3 foi realizado, sendo que os bebês foram acompanhados até os quatro anos de idade. Aqueles cujas mães receberam suplemento de ômega-3 tiveram avaliação mais alta nos testes de processamento mental.
Saúde mental
O suplemento de ômega-3 tem também demonstrado ser benéfico em depressão e desordens bipolares. Em uma revisão em 23 países, Hibbeln e colaboradores encontraram que tanto baixo conteúdo de DHA no leite materno quanto o baixo consumo de alimento marinho foram associados às maiores taxas de depressão pós-parto.
Função cognitiva
Demência é uma desordem comum entre idosos. Sua prevalência aumenta com a idade para mais de 30% entre aqueles com mais de 85 anos de idade. Grandes estudos epidemiológicos têm identificado o consumo de óleo de peixe com um fator protetor potencial contra demência. Autores têm relatado a melhora de escores de demência com a suplementação de DHA aos pacientes. Os autores concluem ao final da revisão que o aumento da ingestão de ácidos graxos ômega-3 pode ter impacto positivo na saúde de grande parte da população.
Referências bibliográficas
1. Ruxton CHS, Reed SC, Simpson MJA, Millington KJ. The health benefits of omega-3 polyunsaturated fatty acid: a review of the evidence. J hum nutr dietet, 20:275-285
Fonte: Galena Nutrition.
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