A acne vulgar é uma dermatose crônica, específica dos folículos pilossebáceos, que são unidades compostas por uma glândula sebácea bem desenvolvida e um pelo rudimentar. Entre os fatores envolvidos na fisiopatologia da acne, encontram-se a hiperatividade das glândulas sebáceas, hiperqueratinização e descamação anormal do epitélio folicular, acarretando na obstrução do canal pilossebáceo, com posterior infecção dos folículos pela bactéria denominada Propionibacterium acnes (P. acnes) e, muitas vezes, inflamação.
Do ponto de vista clínico, a acne pode se manifestar com lesões inflamadas ou não inflamadas. As lesões não inflamadas podem ser diferenciadas em comedão aberto (ponto negro) ou comedão fechado (ponto branco); enquanto que as lesões inflamadas se dividem em: pápula, pústula, nódulo e cisto. Frequentemente, de fácil diagnóstico, a acne pode ser classificada de acordo com o tipo de lesão predominante. O esquema de classificação do grau de severidade da acne preconizado pela Academia Americana de Dermatologia inclui três níveis: leve, moderado e severo, podendo também ser graduada em níveis de I a IV, conforme a gravidade do quadro.
Graças à influência androgênica, a acne acomete principalmente adolescentes do sexo masculino; entretanto, pode se estender até a idade adulta, acomentendo principalmente as mulheres nesta fase. A acne afeta principalmente a região da face, costas, peito e ombros, visto que tais áreas apresentam glândulas sebáceas maiores e mais numerosas, e sua etiologia compreende diversos fatores, incluindo os genéticos, hormonais, dietéticos e psicológicos, os quais podem atuar de forma isolada ou interligada.
A dieta habitual parece exercer papel fundamental na prevenção e no tratamento da acne vulgar, através da alteração de parâmetros bioquímicos e endócrinos relacionados ao desenvolvimento dessa dermatose. Deste modo, tendo em vista que a dieta pode auxiliar no tratamento da acne vulgar, o nutricionista pode atuar de forma a contribuir para o tratamento dessa afecção dermatológica.
Embora a acne não seja uma doença grave, acomete adolescentes e adultos e compromete a estética, assim, causando desconforto e até mesmo alterações emocionais, como baixa autoestima, depressão e ansiedade, que podem gerar dificuldades de socialização.
Ocasionalmente, alguns indivíduos portadores de acne vulgar referem piora das lesões após a ingestão de determinados alimentos, estando entre os alimentos mais incriminados: chocolates, nozes, produtos lácteos, alimentos gordurosos, preparações condimentadas e carboidratos com alto índice glicêmico, porém esta relação ainda não é clara.
Entre fatores dietéticos mais implicados com relação ao desenvolvimento da acne e/ou piora das lesões, ou seja, o aspecto de maior relevância na prevenção e no tratamento é o índice glicêmico da dieta, tendo em vista estudos que referem a melhora no quadro clínico desta dermatose quando dietas com baixo índice glicêmico são adotadas.
Por isso, mostra-se de suma importância evitar os quadros de hiperinsulinemia aguda repetidos, vislumbrando redução da biodisponibilidade de andrógenos livres na circulação e, consequente, diminuição da oleosidade da pele, além da melhora de outros parâmetros bioquímicos envolvidos na fisiopatologia desta dermatose.
Portanto, é importante que o nutricionista atue, colaborando na melhora da acne, com base em um maior conhecimento sobre a influência da alimentação no tratamento desta dermatose, a partir de uma prescrição dietoterápica adequada, para tanto, priorizando alimentos de baixo índice glicêmico para constituição do plano alimentar, como, por exemplo, frutas com casca (maçã, pera), leguminosas (grão-de-bico, feijões, lentilha), verduras, cereais integrais, entre outros.
“É importante que o nutricionista atue, colaborando na melhora da acne, com base em um maior conhecimento sobre a influência da alimentação no tratamento desta dermatose”
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Fonte: Revista nutrionline
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