Conhecido como tempero e corante natural, o açafrão-da-terra (Curcuma longa L.), açafrão-da-índia ou simplesmente cúrcuma é uma planta nativa da Ásia, pertencente à família do gengibre, cuja raiz dá origem à especiaria de cor amarela intensa. Popularmente utilizado como condimento na culinária, várias pesquisas têm demonstrado, ao longo dos anos, que o açafrão também traz inúmeras vantagens à saúde. A maioria dos benefícios está associada ao seu princípio majoritário e ativo: a curcumina, um composto fenólico com potenciais propriedades antioxidante e anti-inflamatória.
Considerada uma ‘maravilha natural’, a curcumina tem se mostrado benéfica na prevenção de várias doenças. “Nos últimos anos, estudos in vitro, in vivo e clínicos sugerem que a substância possui propriedades anticancerígena, antiviral, antiamiloide, antiaterosclerótica, antioxidante e anti-inflamatória”, enumera o professor doutor João Felipe Mota, coordenador do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Goiás (UFG). O pesquisador afirma que os mecanismos relacionados a este processo envolvem a regulação do complexo proteico NF-kB, fatores de crescimento, citocinas, proteínas e enzimas relacionadas ao processo inflamatório.
Segundo o professor doutor do curso de Nutrição da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA/Unicamp), Dennys Cintra, devido à sua ação anti-inflamatória, a curcumina também melhora as doenças metabólicas que estão relacionadas a um processo inflamatório. “Não que a substância tenha uma ação de combate ao câncer, à aterosclerose, às doenças cardiovasculares ou resistência à insulina, por exemplo, mas, ao atuar bloqueando o processo inflamatório, indiretamente reduz o risco de desenvolvimento ou de propagação dessas doenças, destacando-se, assim, como um importante agente protetor”, explica. O pesquisador acrescenta que há relatos na literatura de que a curcumina aumenta a expressão de enzimas antioxidantes. Quando os ácidos graxos que estão livres na circulação sofrem menos com o processo de oxidação, reduz a chance de um processo aterosclerótico, por exemplo, relacionado às doenças cardiovasculares. Desta forma, é correto afirmar que a curcumina aumenta a quebra de ácidos graxos e reduz a síntese de triglicerídeos, colesterol e VLDL.
“Investigações recentes sugerem, ainda, possíveis benefícios relacionados a indigestão, gastrite, úlcera péptica, distúrbios hepáticos, hipercolesterolemia e doenças autoimunes, tais como artrite reumatoide e doença de Crohn”, assegura Moacir Biondo, técnico especialista em Plantas Medicinais da Amazônia e instrutor de estágio no Internato Rural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O especialista aponta, ainda, outras propriedades da curcumina, como ações desintoxicante, que combate infecções e inflamações do estômago e do intestino delgado; antibacteriana e antifúngica, úteis no trato de infecções por cândida.
Uso recomendado
Como tempero, a cúrcuma pode ser consumida em quase todos os alimentos, já que pouco ou nada altera o sabor. “Ainda não se sabe, ao certo, a melhor quantidade a ser ingerida. Estudos já testaram de 250mg a 12 gramas/dia e em nenhum caso foram apresentados efeitos colaterais”, assegura o professor João Felipe Mota, ao comentar que, por ser um pigmento, a melhor absorção da curcumina ocorre com o consumo de óleos e gorduras. Além de ser encontrada in natura, já existe no mercado curcumina isolada em cápsulas, o que é altamente reprovado pelos especialistas, pois não se conhece as doses e o excesso pode ativar o processo de morte celular.
Curcumina no combate à dengue
Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP), em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirmam que a curcumina é o novo antídoto no combate ao mosquito transmissor da dengue, sendo capaz de eliminar as larvas do Aedes aegypti. Isso ocorre quando as larvas ingerem a curcumina e, após a exposição com a luz, sofrem uma reação que destrói o intestino e leva à morte. O uso de fotossensibilizadores já é bem conhecido na literatura e demonstra grande eficácia. Mas essa é a primeira vez que uma substância natural foi utilizada, com método de entrega mais eficiente e sem agredir o meio ambiente.
Pioneira, a pesquisa da mestranda do programa de pós-graduação em Biotecnologia da UFSCar, Larissa Souza, trabalhou um novo uso do efeito fotodinâmico da curcumina. “No experimento, a curcumina é ingerida pela larva e fica alojada em seu intestino. Na presença da luz, é ativada e provoca a produção de espécies reativas de oxigênio, o qual levará à destruição por oxidação das células em contato com a substância”, relata. A pesquisadora conta que, durante este processo, as principais células afetadas são as do intestino, que sofrem dano irreversível. Durante os trabalhos, os pesquisadores observaram, por meio de imagens de fluorescência, a curcumina em todo o canal alimentar da larva, indicando que a substância havia sido ingerida.
“Nos ensaios, obtivemos 100% de mortalidade em poucas horas, quando exposto à luz solar, e em cerca de 24 horas com o uso da lâmpada fluorescente”, explica Larissa Souza, ao complementar que, ao entrar em contato com a luz, a curcumina combate as larvas e se dissolve. O próximo passo da pesquisa é partir para os criadouros reais, definindo a quantidade mais adequada e, então, concluir se o efeito é realmente o esperado. Outros testes de segurança em organismos ‘não alvos’ também serão realizados antes da implementação. A pesquisadora acredita que será necessário mais um ano de pesquisas para que encontre a melhor forma de disponibilizar essa substância de maneira segura e eficaz.
Fonte: Yakult
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