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NUTRIÇÃO E DESEMPENHO COGNITIVO EM CRIANÇAS.

quinta-feira, 14 de março de 2013
As crianças encontram-se, especialmente durante os primeiros cinco anos de idade, em um período de desenvolvimento cerebral rápido e dramático, que envolve a aquisição fundamental de habilidades cognitivas, como memória e atenção. A alimentação é um fator ambiental que pode resultar na modificação da expressão gênica, por meio de mecanismos epigenéticos. Ao mesmo tempo, é responsável por fornecer moléculas específicas que permitem que os genes exerçam seus efeitos no crescimento e desenvolvimento cerebral5. Porém, poucos estudos examinam o papel da nutrição nesta fase do desenvolvimento cerebral e cognitivo. O cérebro é um tecido especializado e suas funções especiais refletem no aumento da necessidade de certos nutrientes, como ácido retinóico (forma ativa da vitamina A), colina, ácido fólico, ferro, zinco e alguns ácidos graxos, como esfingolipídeos e ácido docosahexaenóico5.

O impacto da ingestão de nutrientes na morfologia cerebral e na atividade e sinapse de neurônios podem resultar, por fim, na influência sobre a função cognitiva. A definição de cognição é ampla e abrange a habilidade de aplicar ou generalizar conhecimentos previamente adquiridos a situações novas; a habilidade de alterar, de forma flexível, diferentes tendências comportamentais dependendo do contexto ambiental; a habilidade de se adaptar a novas situações e a habilidade de mudar o comportamento em resposta à exigência de determinadas tarefas9.

A determinação da correlação entre a deficiência de nutrientes e o desempenho cognitivo é sempre difícil de ser realizada, uma vez que muitos fatores podem confundir a associação entre estas variáveis, dentre eles a condição socioeconômica e o acesso a serviços de saúde6.

A deficiência de ferro pode acarretar no desenvolvimento de anemia ferropriva, condição que, quando presente no início da infância, pode fazer com que as crianças tenham pior desempenho em testes cognitivos ao atingir a idade escolar. Este é um exemplo típico de caso em que a condição socioeconômica é um viés que dificulta o estabelecimento de relação causal entre a deficiência nutricional e o prejuízo à capacidade cognitiva3.

O papel do ácido fólico sobre o desempenho cognitivo de crianças parece estar mais relacionado à ingestão materna deste micronutriente durante a gestação. Em um estudo publicado recentemente, verificou-se que crianças cujas mães apresentaram maiores concentrações de folato durante a gestação tiveram melhor desempenho em testes de função cognitiva entre os 9 e 10 anos de idade, independente de fatores como a condição socioeconômica e a concentração sérica de folato da criança8.

A deficiência de zinco altera a regulação do sistema nervoso autônomo e o desenvolvimento do hipocampo e do cerebelo. Porém, não parece influenciar o quociente de inteligência de crianças2. Outros nutrientes importantes para o desenvolvimento cerebral incluem iodo, cobre e os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, em especial o docosahexaenóico (DHA).

Ensaios clínicos aleatorizados com suplementação de DHA realizados nos últimos 20 anos mostraram-se capaz de melhorar desfechos visuais e cognitivos, embora os resultados relativos à cognição sejam menos consistentes1.

O DHA é um dos lipídeos mais concentrados nas membranas e vesículas sinápticas. Durante a fase de desenvolvimento infantil, sobretudo até o segundo ano de vida, o sistema nervoso central é vulnerável à deficiência de DHA. Em crianças com ingestão insuficiente de DHA, a suplementação pode melhorar a eficiência das sinapses, bem como a sua velocidade de transmissão, melhorando a velocidade com que as informações são processadas, e, assim, a capacidade cognitiva1.

As evidências deste potencial aumento da eficiência neuronal são encontradas em estudos que compararam crianças que receberam fórmulas suplementadas com DHA (versus fórmulas padrão) ou aquelas expostas a maiores concentrações de DHA (com base em marcadores biológicos), demonstrando: maior capacidade de detectar novos estímulos (aos 6 meses de vida), melhor capacidade de resolver problemas (9 e 10 meses), processamento mais rápido de informações (entre 4 e 12 meses), maior capacidade de orientação (12 meses) e de atenção sustentada (18 meses)1.

Alguns pesquisadores sugerem que o consumo regular de café da manhã pode beneficiar a função cognitiva, especialmente a memória, além de melhorar o desempenho acadêmico e a função psicossocial. Novamente, a interpretação desses achados pode ser dificultada por fatores de confusão tais como a condição socioeconômica4.

Embora não se tenha evidências conclusivas no que se refere ao papel dos nutrientes sobre o desempenho cognitivo de crianças, a nutrição adequada na infância possui outras inúmeras vantagens já descritas na literatura, sendo essencial para o desenvolvimento físico e o crescimento linear. Por isso, alimentos ricos em ferro, cálcio, vitamina A, vitamina D e zinco devem ser regularmente oferecidos à criança7.

Além disso, nesta época são formados hábitos alimentares que poderão influenciar posteriormente a saúde. Portanto, deve-se preocupar com a frequência e horário das refeições, em proporcionar um ambiente calmo e agradável para a sua realização, em apresentar novos alimentos, em evitar a monotonia alimentar e limitar a ingestão de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar, pois são comprovadamente fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta7.


Referências:
1. Cheatham CL, Colombo J, Carlson SE. N-3 Fatty acids and cognitive and visual acuity development: methodologic and conceptual considerations. Am J Clin Nutr 2006;83(suppl):1458S- 66S.
2. Georgieff MK. Nutrition and the developing brain: nutrient priorities and measurement. Am J Clin Nutr. 2007;85(2):614S-620S.
3. Grantham-McGregor S, Ani C. A Review of Studies on the Effect of Iron Deficiency on Cognitive Development in Children. J Nutr 2001; 131: 649S-668S.
4. Rampersaud GC, Pereira MA, Girard BL, Adams J, Metzl JD. Breakfast habits, nutritional status, body weight, and academic performance in children and adolescents. J Am Diet Assoc 2005; 105: 743-760.
5. Rosales FJ, Reznick JS, Zeisel SH. Understanding the Role of Nutrition in the Brain & Behavioral Development of Toddlers and Preschool Children: Identifying and Overcoming Methodological Barriers. Nutr Neurosci 2009; 12(5): 190-202.
6. Santos LM dos, Santos DN dos, Bastos ACS, Assis AMO, Prado MS, Barreto ML. Determinants of early cognitive development: hierarchical analysis of a longitudinal study. Cad Saúde Pública 2008; 24(2): 427-437.
7. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. SBP: Rio de Janeiro; 2006.
8. Veena SR, Krishnaveni GV, Srinivasan K, Wills AK, Muthayya S, Kurpad AV, Yajnik CS, Fall CH. Higher maternal plasma folate but not vitamin B-12 concentrations during pregnancy are associated with better cognitive function scores in 9- to 10- year-old children in South India. J Nutr. 2010; 140(5): 1014-22.
9. Wainwright PE, Colombo J. Nutrition and the development of cognitive functions: interpretation of behavioral studies in animals and human infants. Am J Clin Nutr 2006;84:961-70.
 
Fonte: Unilever Health Institute, Nutrição e desempenho cognitivo em crianças. O cérebro com suas funções especiais apresenta necessidades aumentadas de certos nutrientes. Acesso em 14/03/2013.

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