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SELÊNIO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES.

quarta-feira, 3 de abril de 2013
O selênio é um mineral traço essencial envolvido na proteção contra o estresse oxidativo através de enzimas, como as gluationa peroxidases dependentes de selênio, e outras selenoproteínas2. A recomendação de consumo para adultos é de 55 µg/dia3. As principais fontes dietéticas são cereais, castanhas, carnes, peixes e frutos do mar1. Por sua propriedade antioxidante, nas últimas décadas vêm sendo conduzidas investigações para avaliar o papel do selênio na redução do risco de doenças cardiovasculares (DCV)2.

Estudos experimentais apontam que o papel cardioprotetor deste mineral pode ser atribuído não somente ao seu potencial antioxidante, como também à diminuição da produção do fator de transcrição NFκB, responsável por ativar vias próinflamatórias. Também em animais, a suplementação de selênio é capaz de diminuir a área do infarto do miocárdio e as consequências do remodelamento cardíaco7.
Em humanos, estudos observacionais iniciais sugeriram uma relação inversa entre concentrações plasmáticas de selênio e incidência de DCV, especialmente em populações com deficiência deste nutriente, como no leste da Finlândia5. Trabalhos recentes mostraram que a relação não é linear, pois a mortalidade cardiovascular decresce à medida que a concentração plasmática do mineral aumenta, mas até 120 µg/L, a partir da qual pode ocorrer o inverso4.
Uma metanálise publicada por Flores-Mateo et al. (2006)2 reunindo as evidências observacionais concluiu que existe uma modesta associação inversa entre níveis séricos de selênio e risco de DCV. Nos estudos de intervenção, todavia, existe a possibilidade de que a suplementação com altas doses do mineral (ex: 200 µg/dia) tenha efeito deletério sobre o risco de diabetes tipo 2 e sobre as concentrações plasmáticas de LDL-colesterol e triglicérides, por meio de mecanismos que ainda não são claros, mas parecem envolver um aumento paradoxal no estresse oxidativo quando doses muito elevadas são administradas6.
Tem-se estudado também o efeito de intervenções com alimentos ricos em selênio. Cominetti et al. (2012)1 investigaram o impacto do consumo diário de uma castanha do Pará (290 µg selênio/dia) durante dois meses sobre o status de selênio, atividade de enzimas antioxidantes e perfil lipídico em 37 mulheres brasileiras obesas. Todas apresentavam inicialmente deficiência de selênio, que foi resolvida com a intervenção. Houve aumento significativo nas concentrações de HDL-colesterol, resultado que pode contribuir para a redução do risco cardiovascular. Os autores enfatizam que 1 castanha do Pará/dia é suficiente para a obtenção de benefícios, pois seu teor de selênio é muito alto e o consumo excessivo pode alcançar níveis tóxicos (> 400 µg/dia)1,3. Estudos anteriores também demonstraram associação inversa entre o consumo de castanhas e o risco cardiovascular, porém esta relação pode ser devida ao teor de gordura poli-insaturada presente nestes alimentos, e não exclusivamente ao conteúdo de selênio1,2.
Em conclusão, os resultados de investigações sobre a relação entre selênio e DCV mostram efeitos positivos, pela sua potente capacidade de defesa contra o estresse oxidativo. O que falta identificar é a quantidade ótima deste mineral que resulte em redução do risco cardiovascular, uma vez que há uma margem estreita de segurança no consumo. É possível que a ausência de consenso nos estudos atuais seja devida a questões metodológicas, como a ausência de padronização de medidas do status de selênio, além da heterogeneidade das populações estudadas, aspectos que deverão ser considerados nas próximas pesquisas4.
 
Referências:
1) Cominetti C, de Bortoli MC, Garrido AB Jr, et al. Brazilian nut consumption improves selenium status and glutathione peroxidase activity and reduces atherogenic risk in obese women. Nutr Res 2012; 32(6): 403-407.
2) Flores-Mateo G, Navas-Acien A, Pastor-Barriuso R, et al. Selenium and coronary heart disease: a meta-analysis. Am J Clin Nutr 2006; 84(4): 762-773.
3) Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Vitamin C, Vitamin E, Selenium, and Carotenoids (2000). Disponível em: <http://www.iom.edu/~/media/Files/Activity%20Files/Nutrition/DRIs/DRI_Elements.pdf>. Acesso 17 jan 2013.
4) Joseph J. Selenium and Cardiometabolic Health: Inconclusive Yet Intriguing Evidence. Am J Med Sci 2012 Sep 17. [Epub ahead of print].
5) Miettinen TA, Alfthan G, Huttunen JK, et al. Serum selenium concentration related to myocardial infarction and fatty acid content of serum lipids. Br Med J (Clin Res Ed) 1983; 287(6391): 517-519.
6) Navas-Acien A, Bleys J, Guallar E. Selenium intake and cardiovascular risk: what is new? Curr Opin Lipidol 2008; 19(1): 43-49.
7) Tanguy S, Grauzam S, de Leiris J, et al. Impact of dietary selenium intake on cardiac health: experimental approaches and human studies. Mol Nutr Food Res 2012; 56(7): 1106-1121.
 
Fonte: Unilever Health Institute, Selênio e doenças cardiovasculares. Qual será a quantidade ideal de consumo deste mineral para reduzir o risco cardiovascular? Acesso em 03/04/2013.

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