O hormônio do crescimento é um hormônio formado por um peptídeo de cadeia simples e secretado por uma glândula, pequena como um grão de feijão localizada na parte inferior do cérebro, chamada hipófise.
Como o nome diz, esse hormônio é absolutamente essencial para proporcionar o crescimento físico e a deficiência em sua produção é responsável pelos casos de nanismo, isto é, pela estatura muito baixa de algumas pessoas
O hormônio do crescimento continua sendo secretado na idade adulta após a parada do crescimento, implicando em importantes funções metabólicas do GH nesta fase da vida. Entre os 18 e 25 anos há uma queda exponencial na média de secreção de GH, com queda nos níveis de IGF -1. Aos 60 anos, quase todas as pessoas tem taxa de secreção diária de GH baixíssimas.
Sua liberação no organismo ocorre principalmente à noite, em pulsos, nas primeiras horas de sono, desta forma não é difícil entender porque uma noite bem dormida liberaria uma descarga de GH no organismo. Outra situação que estimula a liberação deste hormônio é a prática de atividade física, principalmente a anaeróbica, na qual, a liberação de ácido láctico estimula a liberação deste hormônio, assim como de testosterona.
Uma situação que suprime o GH é a liberação de insulina, estes hormônios são contra – reguladores, isto quer dizer que quando um se eleva, o outro diminui tendo em vista que a insulina diminui o açúcar no sangue e o GH eleva. Assim, excesso de carboidratos principalmente na forma simples, despeja “rios’’ glicose em nossa corrente sanguínea, o que libera INSULINA e diminui a produção de GH.
Assim, estas três situações diminuem a liberação de GH:
Não dormir adequadamente
Não praticar atividades físicas
Comer carboidratos em excesso ao longo do dia com pouca proteína
SOMATOPAUSA: ocorre por um declínio exponencial na secreção de GH, o qual leva à deterioração da composição corporal ao longo do envelhecimento já que além de nos fazer crescer ao fim da adolescência, este hormônio tem a importante função de renovação, reparação de tecidos corpóreos e produção de colágeno
Consequências da deficiência de GH em adultos
Embora os sintomas sejam inespecíficos,os sinais são relevantes e podem levar a problemas que que resultem na redução do tempo de vida. Independente da época de início da deficiência os indivíduos sofrem uma gama de anormalidades metabólicas, de composição corporal e funcionais.
Sintomas:
Diminuição da vitalidade e energia
Diminuição da mobilidade física
Humor deprimido
Labilidade emocional
Ansiedade
Distúrbios da função sexual
Isolamento social
Sinais:
1- Alterações da composição corporal:
Redução da massa magra
Aumento da massa gorda
Aumento de gordura visceral
Redução da água corporal
Redução da densidade óssea
2- Diminuição da força
3- Aumento do IMC
4- Aumento da relação cintura quadril
5- Perfil lipídico anormal:
Aumento do colesterol total
Aumento do LDL
Redução do HDL
6- Aumento do fibrinogênio – fator de coagulação envolvido em eventos tromboembólicos
Nas pessoas adultas com deficiência de GH, a reposição desse hormônio induz :
Aumento da energia
Melhora do bem-estar físico
Aumento da massa muscular de forma gradual e sem exageros, caso se use doses fisiológicas
Reduz o peso corporal com redistribuição da gordura abdominal
Melhora o raciocínio, a concentração e a memória
Melhora a qualidade do sono
Melhora os parâmetros cardiovasculares
Melhora o perfil lipídico
Melhora a qualidade de vide
Aumenta a densidade mineral óssea
Fonte: Livro Fisiologia e Fisiopatologia do Hormônio do Crescimento
Indicações:
A administração de GH a adultos deve obedecer a uma indicação clínica precisa, somada ao déficit laboratorial e físico.
Além disto outros parâmetros laboratoriais e de imagem devem ser analisados para ser usado com segurança.
Somente sob orientação médica o uso terapêutico do GH pode ser benéfico e seguro.
Os riscos do tratamento são bastante raros quando o GH é prescrito em doses fisiológicas e se bem indicado.
Contra indicações:
Doença maligna ativa
Hipertensão intracraniana
Insuficiência cardíaca severa
Retinopatia diabética
Gravidez
Efeitos colaterais: em geral visto em doses supra fisiológicas.
Edema e dor articular
Intolerância a glicose e resistência a insulina
Síndrome do túnel do carpo
Crescimento de extremidades
Hormônio do Crescimento e Sistema Imune:
De maneira inversa, no mesmo tempo que recebíamos o alento quanto ao poderoso aliado, foi iniciada a especulação de que o GH deflagraria o aparecimento de cânceres, ou ainda favoreceria o aumento na velocidade daqueles pré-existentes, porém, em doses fisiológicas o que ocorre é provavelmente o contrário. Durante toda a nossa vida ocorre um constante embate entre o nosso sistema imunológico e células que perdem o senso proliferativo normal, assumindo postura cancerígena ou mais exatamente, iniciando um processo de replicação celular sem controle. Há algum tempo temos conhecimento da existência de células do sistema imunológico, matadoras naturais (Natural Killer-NK), as quais eliminam células iniciantes do processo tumoral e alguns trabalhos científicos demonstram que o GH tem relação com a boa performance das células NK como visto nos artigos abaixo:
Exogenous growth hormone treatment alters body composition and increases natural killer cell activity in women with impaired endogenous growth hormone secretion. Douglas M. Crist, Glenn T.
Lymphocyte subset distribution and natural killer activity in growth hormone deficiency before and during short-term treatment with growth hormone releasing hormone. W. Kiess, S. Malozowski, M. Gelato, O. Butenand, H. Doerr, B. Crisp, E. Eisl, A. Maluish, B.H Belohradsky.
Growth hormone, lymphocytes and macrophages. Keith W. Kelley.
GH e Colesterol
Três estudos relacionados abaixo indicam que o tratamento com o hormônio de crescimento melhora o perfil lipídico sérico, reduzindo o colesterol total e LDL, o mau colesterol. Dois dos estudos também indicam que o perfil do HDL melhora após alguns meses de tratamento. Um dos estudos, realizado pelos pesquisadores do Departamento de Endocrinologia da University Hospital, em Malmo, Suécia e publicado no Clinical Endocrinology (Oxford), concluiu que o perfil lipídico dos 31 pacientes tratados melhorou, com a redução do LDL-colesterol no soro acompanhado de uma melhoria significativa da razão LDL/HDL e do HDL-colesterol após 12 meses de tratamento.
Veja os estudos:
“Effects of recombinant human growth hormone on serum lipid in aged male patients with chronic heart failure.” De um grupo chinês que usou GH humano recombinante no tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca crônica (ICC), e concluiu que o GH influencia o metabolismo dos lipídeos, reduz o nível de LDL-Colesterol, e Colesterol Total (TC). No entanto GH não tem efeitos sobre o HDL-Colesterol e nível de triglicerídeos (TG).
“The effects of GH replacement therapy on cardiac morphology and function, exercise capacity and serum lipids in elderly patients with GH deficiency”. Dos pesquisadores do Departamento de Endocrinologia da University Hospital, Malmo, Suécia.
“The effect of recombinant human GH replacement therapy on lipoprotein(a) and other lipid parameters in adults with acquired GH deficiency: results of a double-blind and placebo-controlled trial.” Este estudo publicado por pesquisadores alemães do Departmento de Gastroenterologia e Endocrinologia, da Georg-August-University, em Göttingen, Alemanha, mostra um efeito desfavorável da terapia de substituição com GH humano recombinante nos níveis séricos da Lp(a), que é, contrabalanceada por um efeito favorável do GH no colesterol total (CT), LDL-C e nas razões CT/LDL-C e LDL-C/HDL-C.
Um estudo indica a terapia com hormônio de crescimento (GH) para Doença de Crohn
A doença de Crohn é uma desordem inflamatória crônica do intestino. Em um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Pediatria do Hospital da North Shore University e da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, avaliou-se a administração do hormônio de crescimento (somatropina), bem como uma dieta rica em proteínas na melhora dos sintomas da doença.
Para isto, foram distribuídos aleatoriamente a 37 adultos com Doença de Crohn ativa moderada a grave, quatro meses de injeções de hormônio de crescimento auto-administráveis (dose de ataque de 5 mg por dia, por via subcutânea durante uma semana, seguido por uma dose de manutenção de 1,5 mg por dia) ou placebo. Todos os pacientes foram instruídos a aumentar a sua ingestão de proteínas em pelo menos 2 g por quilograma de peso do corpo por dia. Os pacientes continuaram a ser tratados pelos seus médicos habituais e receber outros medicamentos para a doença de Crohn. A meta primária dos cientistas foi a redução na pontuação do Índice de Atividade da Doença de Crohn ao término dos quatro meses do experimento. Os escores podem variar de 0 a 600, com escores mais altos indicando maior atividade da doença.
No início do experimento, a média de pontuação do Índice de Atividade da Doença de Crohn foi um pouco maior entre os 19 pacientes do grupo que tomou o hormônio de crescimento do que entre os 18 pacientes do grupo placebo. Ao final dos quatro meses, a pontuação do Índice de Atividade da Doença de Crohn havia diminuído em média de 143 pontos no grupo tratado com o hormônio de crescimento, em comparação com uma diminuição de apenas 19 pontos no grupo tratado com placebo. Este estudo sugere que o hormônio do crescimento pode ser um tratamento benéfico para pacientes com a Doença de Crohn.
Fonte: A PRELIMINARY STUDY OF GROWTH HORMONE THERAPY FOR CROHN’S DISEASE
GH e Cognição
Dados recentes indicam que a terapia com hormônio do crescimento pode ter um papel na melhoria da função cognitiva. Terapia de substituição de GH em animais experimentais e humanos neutraliza disfunções relacionadas com a aprendizagem e a memória. Esta hormônio poderia interagir com receptores específicos localizados em áreas do sistema nervoso central que são associados a memória e aprendizagem. Acredita-se que o GH esteja envolvido na plasticidade sináptica, o que altera a capacidade cognitiva. GH também tem um efeito protetor no sistema nervoso central, tal como visto em em doentes com lesão medular. Os dados coletados a partir de modelos animais demonstram que o GH pode também estimular a neurogênese.
Fonte: Nature Reviews Endocrinology 9, 357-365 (June 2013) | doi:10.1038/nrendo.2013.78 Growth hormone and cognitive function Fred Nyberg & Mathias Hallberg
Gh e Obesidade
A obesidade tornou-se um dos problemas médicos mais comuns em países desenvolvidos, e esta doença está associada a alta incidência de hipertensão arterial, dislipidemia, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 e câncer específicos. O GH estimula a produção do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IgF1) na maioria dos tecidos, e em conjunto GH e IgF1 exercem potentes ações coletivas em gorduras, proteínas e o metabolismo da glicose. Os ensaios clínicos para avaliar os efeitos de tratamento com GH em pacientes com obesidade mostraram reduções consistentes na massa total do tecido adiposo, em particular abdominal e viscerais . Além disso, os estudos em pacientes com obesidade abdominal demonstraram um efeito marcante da terapia GH sobre a composição corporal e em lipídios e glicemia. Portanto, a administração de GH humano recombinante ou a ativação da produção de GH endógeno tem um grande potencial para tratamento de obesidade e suas disfunções metabólicas No entanto, o uso clínico de GH tem controvérsias , por conta de dados conflitantes sobre os seus efeitos sobre a glicemia. Esta revisão fornece uma introdução ao papel do GH na obesidade e resume os dados clínicos e pré que descrevem como GH pode influenciar o estado obeso.
Nature Reviews Endocrinology 9, 346-356 (June 2013) | doi:10.1038/nrendo.2013.64 The GH/IGF-1 axis in obesity: pathophysiology and therapeutic considerations Darlene E. Berryman, Camilla A. M. Glad, Edward O. List & Gudmundur Johannsson
O GH causa câncer?
A capacidade do GH, através do seu peptídeo mediador IGF-1, para influenciar regulação do crescimento celular tem sido o foco de muito interesse nos últimos anos. Nesta revisão, vamos explorar a associação entre GH e câncer. Dados experimentais disponíveis apoiam a sugestão de que o status do GH/IGF-1 pode influenciar o crescimento de tecidos neoplásicos. Extensos dados epidemiológicos existentes também suportam uma ligação entre o status do GH/IGF-1 e risco de câncer. Estudos epidemiológicos de pacientes com acromegalia indicam um risco aumentado de câncer colorretal, embora o risco de outros cânceres não esteja provado e um estudo de longo prazo no acompanhamento de crianças deficientes em GH, tratadas com GH hipofisário indicou um risco aumentado de câncer colorretal. Por outro lado, estudos extensivos dos resultados da reposição de GH em sobreviventes de câncer infantil não mostram evidências de novos cânceres e estudos de vigilância mais recentes de crianças e adultos tratados com GH revelaram nenhum aumento observado no risco de câncer. No entanto, dada a evidência experimental que indica que o GH/IGF-1 fornece um ambiente anti-apoptótico que possam favorecer a sobrevivência de células geneticamente danificadas, em observação de longo prazo é necessária; ao longo de muitos anos, até mesmo uma sutil alteração no meio ambiente nessa direção, apesar de não induzir o câncer, pode resultar na aceleração da carcinogênese.
Finalmente, mesmo que a terapia GH/IGF-1 não resultar em um pequeno aumento no risco de câncer em comparação com pacientes não tratados com deficiência de GH, é provável que o risco eventual será o mesmo que a população em geral. Esta restauração à normalidade terá de ser equilibrado com a morbidade conhecido de deficiência de GH não tratada
Fonte: Does growth hormone cause cancer?
Gh e o Mito do Câncer
Quando se fala em hormônio de crescimento (GH) sempre o associamos, de forma quase automática, ao aparecimento de cânceres. Apesar de haver um certo respaldo neste medo, que culturalmente vem se propagando, a literatura atual nos tranquiliza sobre este risco. Sobre o polêmico tema, a revista Oncotarget, na sua edição de novembro, publicou um artigo. O trabalho compilou diversos estudos em que foi usado GH. Obviamente que a prescrição do hormônio obedeceu os critérios diagnósticos vigentes e apenas aqueles com deficiência comprovada receberam o hormônio, totalizando mais de 11 mil pessoas. Surpreendentemente (ou não) os resultados foram no sentido oposto ao senso comum e ao que é veiculado pela mídia leiga. O uso de GH em pessoas com deficiência, reduziu de forma significativa o surgimento de cânceres.
Conclusão: “Our study suggests that growth hormone replacement therapy could reduce risk of cancer in adult with growth hormone deficiency.”
TEXTO: Dr Sávio Cardoso
Referência:
Li Z, et al. Growth Hormone replacement therapy reduces risk of cancer in adult with growth hormone deficiency: A meta-analysis. Oncotarget. (2016)
Gh, produção de colágeno e cicatrização de feridas
Green e col. (1985) afirmaram que o hormônio de crescimento estimula a formação de tecido por 2 mecanismos: um direto que leva a diferenciação de células precursoras e um mecanismo indireto, mediado pelo aumento do IGF-I, que estimula a proliferação celular por mecanismos autócrinos e parácrinos. Segundo estes autores o GH é capaz de influenciar o metabolismo dos fibroblastos levando a aumento da síntese da matriz, incluíndo os colágenos tipo I e III. Hollander e col. (1984) e Skottner e col. (1990)concluíram que o GH atua na fase inflamatória do processo cicatricial, por aumentar a produção dos fatores de crescimento ou sinergicamente sobre os fatores que atuam nessa fase. Rasmussen e col. (1992) observaram que em pacientes portadores de úlcera venosa crônica de perna, o hormônio do crescimento estimulou a cicatrização, demonstrado pela elevação do propeptídeo do colágeno tipo I e do colágeno tipo III12. Segundo Haukipuro e col. (1990) os propeptídeos dos colágenos I e III refletem a produção local dos colágenos tipo I e III. Vance (1990) sugeriu que o GH atuaria no fígado e em outros tecidos estimulando a produção do fator de crescimento “like”insulina (IGF-I) o qual é responsável por promover os efeitos de crescimento do GH
REFERÊNCIA: O HORMÔNIO DE CRESCIMENTO E A CONCENTRAÇÃO DE COLÁGENO NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS CUTÂNEAS DE RATOS Maria de Lourdes Pessole
Outras Referências:
Circulating levels of IGF1 are associated with muscle strength in middle-aged- and oldest-old women.
Effects of human GH in men over 60 years old.
1 comentários:
PArabéns pelo texto. Atingiu muitas das áreas que tenho curiosidade. Não ficou explícito no texto mas, pelo que entendi, o GH é contra indicado para pessoas com diabetes. Estou atualizando meu site sobre o GH e estou pesquisando bastante sobre o assunto.
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