Foto: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Um estudo coordenado pela nutricionista e pós-graduanda Natalia Altoé, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina (FM) da USP, analisou dados de jovens pertencentes a diferentes países para avaliar a prevalência de sintomas depressivos e excesso de peso em adolescentes. Os resultados, que foram apresentados em maio, sugerem que mulheres são mais propensas a desenvolver ambos quadros simultaneamente.
A investigação foi realizada a partir de informações da Global School-based Student Health Survey (GSHS), uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) entre 2003 e 2008 que coletou dados de 88.587 adolescentes de 18 países em desenvolvimento, todos com idades entre 11 e 17 anos.
Para identificar os jovens que apresentam sobrepeso ou obesidade, Natalia calculou o Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes. Depois, para reconhecer possíveis sintomas de depressão, cruzou os resultados obtidos com informações do questionário de Saúde Mental respondido pelos adolescentes.
Segundo ela, a primeira análise foi feita dividindo as informações de acordo com cada país estudado, sem estratificar os participantes por sexo. “Nesse primeiro momento, os resultados mostraram pouca associação entre os dois fatores”, diz. “Mas, quando a gente separou [por sexo], vimos que era nítido que o masculino não apresentava [essa associação] e que o feminino sim.” Ela conta que quando a mesma avaliação foi feita sem dividir os adolescentes por país, a relação entre peso e sintomas de depressão no sexo feminino também estava presente.
“A princípio, a gente esperava encontrar associação em alguns países e outros não”, afirma Natalia. “Existem lugares nos quais ser uma pessoa mais ‘cheinha’ é uma forma de proteção, e existem países nos quais a cultura da magreza é mais forte. A gente pensou nessa possibilidade, mas não foi assim.” De acordo com ela, como a maioria apresentou resultados semelhantes separadamente e a associação se mostrou presente quando foram avaliados juntos, o estudo sugere que, no caso das mulheres, a relação entre obesidade e depressão independe dos contextos socioculturais específicos de cada país.
Uma pesquisa divulgada em 2012 pela OMS estima que 350 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão e que, em 2030, ela será o mal mais prevalente do planeta, à frente do câncer e de algumas doenças infecciosas. O estudo ainda revela que mulheres são 50% mais propensas a desenvolver o transtorno.
Natalia diz que, com os resultados de sua investigação, ainda não é possível apontar uma causa específica para esse fato. Ela cita que algumas pesquisas comprovam a existência de distúrbios neurobiológicos que podem levar ao desenvolvimento de um quadro depressivo em pessoas obesas, especialmente no sexo feminino. No entanto, para ela, a existência dos dois fatores relacionados também está ligada a uma cultura global de pressão estética. “A gente percebe pelo nosso dia a dia que essa pressão é muito mais presente nas mulheres. [As pessoas] tentam estabelecer um padrão de beleza que deve ser seguido, sendo que cada um tem seu biotipo”, adiciona.
A pesquisadora ressalta também que a associação entre os dois quadros é uma via dupla: é possível que tanto a obesidade leve à depressão quanto o oposto aconteça. “A gente come também por questões emocionais”, diz. “A comida gera prazer, então às vezes, quando a gente está insatisfeito com alguma coisa, nós buscamos nela uma sensação boa. Não é errado nem anormal, todo mundo faz isso. O problema é se vira um hábito, como quando você está insatisfeito com várias coisas e desconta na comida sempre.”
Segundo Natalia, compreender a relação entre o emocional e o ganho de peso é importante no tratamento de ambas condições, e foi isso que motivou sua pesquisa. Ela acredita que, tendo uma mente mais saudável, o paciente pode conquistar um corpo mais equilibrado — assim como controlando o peso ele também pode beneficiar seu emocional.
Fonte: Usp.
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