Todos os anos, mais de 70 bilhões de animais terrestres são abatidos para consumo no mundo. O número gigantesco, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, costuma chocar aqueles que se comovem com o sofrimento dos bichos - e é esse, aliás, o principal motivo pelo qual mais de 16 milhões de brasileiros (8% da população do país) alegam ter se tornadovegetarianos (confira as subdivisões desse grupo mais abaixo), de acordo com pesquisa do Ibope.
Em Belo Horizonte, o porcentual é ainda maior que o da média nacional: 9% dos moradores se dizem adeptos da dieta sem carne. "Beagá é um terreno muito fértil para o vegetarianismo", afirma a presidente da Sociedade Brasileira Vegetariana* (SVB), Marly Winckler. "Nas palestras e nos eventos que promovemos, fica evidente o interesse da população pelo assunto." Não por acaso, crescem na cidade os serviços para esse público. O número de casas especializadas ficou maior, assim como o de pratos sem carne nos restaurantes tradicionais. E há uma boa variedade de endereços que fazem delivery sob medida para quem prefere passar longe do hambúrguer.
Só no último ano, foram abertos na capital mineira cinco estabelecimentos 100%veganos, que apostam no comércio de produtos livres de qualquer tipo de exploração animal, seja para fins alimentícios, cosméticos ou de vestuário: o empório Terra Vegana, o delivery Las Vegans, o Café com Gentileza, o Carro de Lanches Vegetarianos e o Espaço Veg, o primeiro complexo "cruelty free" do Brasil, com lanchonete, bar e restaurante. "Queremos nos tornar ponto de encontro para as várias tribos que defendem os direitos dos animais", diz o culinarista Paulo Renato Rabelo de Freitas, de 34 anos, um dos proprietários do Espaço Veg.
A ampliação dos serviços para o público vegano é um alento àqueles que optaram por esse estilo de vida. Que o digam as advogadas Fabiana Campos, de 31 anos, e Camila Pita, de 29. Depois de assistirem a documentários sobre o sofrimento dos animais, elas resolveram, há um ano e meio, excluir produtos de origem animal do cardápio. "No começo foi difícil, não encontrávamos muitas opções fora de casa", conta Fabiana. "Agora, acho todo tipo de comida em versão vegana na cidade, de cachorro-quente a sorvete."
Os donos desses novos endereços vegetarianos estão de olho em moradores como Fabiana e Camila, que vêm se adaptando a novos hábitos de alimentação. "Nós mudamos a forma de encarar a vida", diz o empresário Jorge Dib, de 53 anos. Desde 2011, ele, a mulher e as duas filhas não comem carne nem derivados de animais, como leite e ovos. Até a cadela Florzinha entrou na onda: só aceita ração feita com legumes e vegetais.
A defesa da causa animal não é o único argumento para os belo-horizontinos vegetarianos. Eles valorizam também os supostos benefícios dessa opção para a saúde. "O consumo de restos de animais está relacionado ao aumento do colesterol ruim, da pressão arterial, de problemas de fígado e cardiovasculares", diz a nutricionista Silvana Portugal, vegana há vinte anos.
Quem adota esse tipo de dieta costuma levantar ainda a bandeira contra o impacto da pecuária no meio ambiente: destruição de biomas, desperdício de água e emissão de gases. A consciência ambiental é mote, por exemplo, da campanha
, existente em 35 países, a exemplo da Inglaterra, onde o movimento é encabeçado pelo exbeatle Paul McCartney.
Depois de conhecer a iniciativa, o arquiteto e urbanista Igor Hermont Vieira, de 26 anos, resolveu aderir. No último mês, ele e a nutricionista Aline Cipriano, de 25 anos, abriram mão de filés às segundas. "O pouco que cada um faz torna-se muito", filosofa a moça. Para os vegetarianos por um dia ou pela semana inteira, não faltam restaurantes na cidade. Confira no
um guia com endereços onde experimentar deliciosas receitas que passam longe da carne.
A TRIBO DE CADA UM
Embora defendam uma mesma causa, os vegetarianos não são todos iguais. Conheça as subdivisões entre eles:
- Semivegetarianos: são avessos à carne vermelha. Consomem peixes e aves;
- Ovolactovegetarianos: não comem carne de nenhum tipo, mas consomem ovos, leite e derivados;
- Ovovegetarianos: essa turma aprecia ovos, mas abre mão de leite e derivados;
- Lactovegetarianos: tiram os ovos da dieta, mas não o leite e seus derivados;
- Vegetarianos estritos: não comem carne, ovos, leite e derivados;
- Veganos: evitam todo tipo de carne, além de ovos, leite, mel e seus derivados. Diferentemente dos vegetarianos, cujo princípio é restrito à alimentação, os veganos não usam nenhum produto de origem animal. Couro, lã e seda, por exemplo, são proibidos.
PARA MUDAR OS HÁBITOS
Segundo a nutricionista Silvana Portugal, vegetarianos devem suprir a carência de vitamina B12, zinco, ferro e cálcio. "Todos os nutrientes podem ser facilmente substituídos ou suplementados", garante. Confira onde encontrá-los:
- B12: em alimentos vegetais enriquecidos com B12. A vitamina pode ser suplementada por via oral. Em alguns casos (como os de idosos e pessoas com problemas de estômago), pode ser injetada;
- Zinco: em oleaginosas, principalmente castanha-do-pará, grãos, folhas verde-escuras e algas;
- Ferro: em leguminosas em geral, como folhas verde-escuras, grão-de-bico e melado de cana;
- Cálcio: em folhas verde-escuras (em especial no suco verde), grão-de-bico, feijão-branco, soja, quinoa, leites vegetais de arroz e soja enriquecidos com cálcio. O tahine, feito com sementes de gergelim, também é aconselhável.
Fonte: Planeta Sustentável
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