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DIETA INTERFERE NAS EMOÇÕES.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Combustível para a vida, os alimentos oferecem subsídios para a realização das tarefas diárias, fornecendo os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo e, consequentemente, atuando na prevenção e manutenção da saúde. Além de influen­ciar positivamente na saúde física, diversos relatos na literatura científica apontam que podem estar associados ao estado de humor, já que determinados alimentos favorecem a produção de neurotransmissores relacionados às sensações de prazer, bem-estar e euforia, como serotonina, noradrenalina, dopamina e endorfina.

Os principais nutrientes re­la­­­cio­­nados com o humor são os aminoácidos triptofano e tirosi­na,­ encontrados em carnes, ovos, leite e derivados, feijão, banana, aveia, grãos de cereais, leguminosas, nozes, vitaminas C e do complexo B, minerais como magnésio, zinco e selênio, e carboidratos. A doutora Jocelem Mastrodi Salgado, pesquisadora e professora titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), explica que, agindo em conjunto, esses nutrientes são capazes de produzir neurotransmissores, gerar energia e viabilizar a transmissão dos impulsos nervosos para que ocorra o processo cerebral em benefício do bom humor.

Famoso aliado das mulheres, o choco­late também pode ter efeito benéfico no humor. Isso ocorre pela presença do cacau, cujo efeito antioxidante e estimu­lan­te agiliza o raciocínio e aumenta­ a produção de serotonina, ajudando a combater a ansiedade e a depressão. A professora Jocelem Mastrodi Salgado informa que o ideal é consumir chocolates com maior proporção de cacau, 50% ou 70% que, diferentemente da versão ao leite, possui menor teor de gordura. “Enquanto a liberação de dopamina, noradrenalina e endorfina está mais relacionada à sensação de bem-estar no sentido de proporcionar energia, disposição e euforia, a serotonina possui uma ação mais relaxante. Portanto, os alimentos que favorecem sua produção podem, em determinadas situações, contribuir para a redução do estresse e da ansiedade”, acrescenta a nutricionista Tássia Aparecida Berner Vivian, do Centro de Referência para a Prevenção e o Controle de Doenças Associadas à Nutrição (CRNutri) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). A substância lactucina, encontrada nos talos da alface, e algumas plantas medicinais, como cidreira, camomila e flor de maracujá, por suas ações calmantes, podem tranquilizar, relaxar e diminuir a ansiedade.

Para a professora doutora em Nutrição Anita Sachs, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o bem-estar e a melhora do humor não são e nem devem ser caracterizados exclusivamente pelo consumo de um ou outro alimento. “Certamente, quando inseridos em uma dieta balanceada contribuem para o bom funcionamento do organismo. Mas, isoladamente, não desempenham essa função. Na verdade, dependem de outros fatores, como a forma que a refeição é apresentada, o ambiente em que é feita e o perfeito equilíbrio nutricional”, relata. A especialista acentua que apenas dentro desse contexto é que a alimentação pode ser catalisadora de bem-estar e interferir, por exemplo, em um comportamento.

Quando a alimentação vira compulsão
Na contramão do bem-estar, o consumo exagerado de alguns alimentos pode ser prejudicial à saúde. Mais do que ganho de peso e desencadeamento de doenças associadas, como hipertensão e diabetes, esses alimentos podem provocar mudanças do comportamento em função da compulsão e da ativação do sistema hedônico de recompensa, que ativam o desejo de comer por prazer e não para restaurar as necessidades de energia do corpo. Um estudo publicado no The Endocrine Society Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (JCEM) demonstrou que, quando o ato de comer é motivado pelo prazer, sinais químicos endógenos gratificantes são ativados, o que pode levar a excessos.

No estudo, os pesquisadores avaliaram oito adultos saudáveis com idades entre 21 e 33 anos e constataram que os níveis plasmáticos de grelina e 2-AG aumentaram durante o comer hedônico, com as comidas favoritas, mas não com a alimentação não hedônica, o que sugere um aumento de ativação do sistema de recompensa química. Muitas vezes, a compulsão é ocasionada por herança familiar, uma vez que a criança segue os mesmos hábitos alimentares, bons ou ruins, dos pais. Alimentos ricos em sacarose, gorduras em geral, embutidos e industrializados, devido à alta concentração de calorias e carboidratos, integram a lista dos vilões contra o bom humor.

“Esses alimentos oferecem uma sensação de prazer imediata, superando os mecanismos de digestão e absorção, ou seja, não há tempo de o alimento chegar ao estômago e intestinos e desencadear as reações hormonais que regulam a fome de forma fisiológica mais equilibrada”, enfatiza a doutora Regina Vilela, professora associada do Departamento de Nutrição e do Programa de Pós-graduação em Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mediada pela dopamina, essa sensação de prazer é percebida como uma recompensa e, em seguida, ativa o sistema de punição causando culpa, tristeza e angústia. Para melhorar, a pessoa volta a comer em busca da sensação de prazer e acaba se tornando refém do alimento, o que, sem dúvida, é preocupante e requer mudanças alimentares, culturais e comportamentais.

Fonte: Yakult.

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