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NEUROPLASTICIDADE.

domingo, 19 de julho de 2015
Não lembrar um item das compras pode acontecer aos 20, 50 ou 70 anos. Mas se não é motivo de pânico sobre a saúde da nossa memória, a lista de supermercado pode ser tema de casa para quem quer deixar a capacidade de guardar informações afiada por mais tempo.

— Anotar compromissos, usar agenda, calendário, fazer lista de compras. Com isso, pode-se prestar atenção em outras coisas — enumera Maira Rozenfeld Olchik, fonoaudióloga e professora do curso de Fonoaudiologia da UFRGS.

No doutorado, Maira realizou um dos maiores estudos sobre treino cognitivo em idosos já feitos no país — 150 pessoas, divididas em 10 grupos. Constatou que as estratégias adotadas resultaram em melhora da memória tanto em quem passava por envelhecimento saudável quanto naqueles com comprometimento cognitivo leve. 

Esse tipo de treino e a forma como pode ser adotado para prevenir demências ou até mesmo preservar a memória foram um dos primeiros temas abordados nesta semana na edição 2015 do Congresso Mundial de Cérebro, Comportamento e Emoções, que se encerra hoje na Capital. Entre os principais fatores que explicam a melhora está a neuroplasticidade, capacidade que tem guiado recentes pesquisas na área.

— Sabemos que algumas pessoas têm uma tremenda capacidade de autorreparação e compensação de doenças cerebrais, como o Alzheimer — explica Sylvie Belleville, professora titular de psicologia na Universidade de Montreal e diretora de pesquisa no Instituto Universitário de Geriatria de Montreal, no Canadá.

A pesquisadora, uma das palestrantes convidadas do evento, lembra que o cérebro reage continuamente e se modifica em resposta ao seu ambiente.

— A neuroplasticidade se refere às alterações que ocorrem no cérebro em resposta a um dano, por exemplo, uma lesão no local, privação do sono, envelhecimento do órgão, Alzheimer. Ou em resposta a um estímulo externo, como treino cognitivo, aprendizagem, atividade física — explica Sylvie.

Neuroimagem comprova melhoras anatômicas
Mas o que são os tais treinos cognitivos? Categorização, associação e imagem mental são três estratégias criadas nesses treinos para ajudar o momento da memorização chamada episódica, enumera Mônica Sanches Yassuda, professora associada do curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP). Uma das técnicas é chamada associação monoface. Por exemplo, você tem uma amiga que se chama Melissa e tem olhos cor de mel. Ao associar a característica ao nome, fica mais fácil lembrar o nome da pessoa.

— Também temos feito treinos para a memória denominada de trabalho, que envolve mais a atenção. Por exemplo, a pessoa ouve três séries de cinco palavras. Toda vez que aparece um animal, ela tem de bater a mão na mesa ou levantar a mão. Depois, tem a tarefa de memorizar a última palavra de cada série de cinco. Ao mesmo tempo em que presta atenção no animal, também tem uma demanda de memória. A Universidade de Pádova teve um resultado muito bom e agora a gente está replicando aqui — diz Mônica.

Uma das novidades nesse campo é usar a neuroimagem para comprovar as melhoras decorrentes dessas intervenções e os mecanismos cerebrais relacionados à neuroplasticidade. É o que estuda Eliane Correa Miotto, neuropsicóloga e professora da pós-graduação do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP:

— Usamos (o exame de ressonância magnética funcional) para tentar entender o efeito desse tratamento. No caso de pessoas que já têm um quadro de comprometimento cognitivo leve, depois das sessões, ocorre geralmente um aumento da ativação de novas áreas cerebrais que se tornam participativas durante um processamento de memória.

Até um tempo atrás, segundo a neuropsicóloga, acreditava-se que o processo de compensação e plasticidade cerebral não ocorria nas pessoas mais idosas ou em quadros de demência. Hoje, a neuroplasticidade tem guiado os principais estudos na área.

— Os investigadores podem ser incentivados a olhar para formas farmacológicas que aumentem a plasticidade cerebral como uma maneira de proteção contra os efeito de doenças como o Alzheimer — completa Sylvie.

O que é?
Cognição
Funções relacionadas ao cérebro como memória, inteligência, concentração. São essas funções que começam a se mostrar comprometidas no envelhecimento saudável ou não.

Comprometimento (ou declínio) cognitivo leve
A pessoa apresenta a rotina do dia a dia preservada, sem alterações funcionais — administra contas e remédios, por exemplo. No entanto, na testagem cognitiva ela já não está no mesmo nível de uma pessoa de igual idade e escolaridade. Pode ser um estágio pré-clínico de demência ou Alzheimer.

Memória de trabalho
Capacidade de manter informações na mente e, ao mesmo tempo, trabalhar com essas informações.

Memória episódica
Conseguir gravar lista de nomes, palavras e números de telefone novos, ou uma lista de compras.

Fonte: Click RBS

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