Sabor e aparência de chocolate, no entanto, mais saudável e menos calórica que o tradicional alimento derivado do cacau. Essa é a alfarroba, uma vagem comestível de cor marrom escuro e sabor adocicado, ainda pouco conhecida no Brasil, mas já disponível em forma de tabletes e barras, principalmente em lojas de produtos naturais. Originária da alfarrobeira, uma planta típica da região do Mediterrâneo pertencente ao grupo das leguminosas, a vagem tem elevadas quantidades de açúcares (sacarose, glicose e frutose) e fibras alimentares ricas em polifenóis. Consumidos principalmente sob a forma de doces, os produtos fabricados a partir das sementes e da vagem da alfarroba não necessitam da adição de açúcar e, por isso, são apontados por especialistas como benéficos à saúde e, também, como um substituto saudável do chocolate.
Os benefícios foram destacados em um estudo publicado pelo Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que apontou a alfarroba como aliada no controle do diabetes. A pesquisa analisou a resposta glicêmica depois da ingestão de um tablete de alfarroba por indivíduos saudáveis e concluiu que, por causa do alto teor de fibras, é um alimento de baixo índice e baixa carga glicêmicos, desempenhando, assim, um papel importante no controle dos níveis de açúcar no sangue. A nutricionista Cláudia Carneiro Hecke Krüger, coordenadora da pesquisa e professora doutora do Departamento de Nutrição e do Programa de Pós-graduação em Segurança Alimentar e Nutricional da UFPR, explica que, além da análise com os voluntários, foi realizado ensaio in vitro para avaliar o índice glicêmico (IG) da farinha de alfarroba.
“Nos dois experimentos obtivemos IG inferiores a 50, sendo que em testes que utilizam a glicose como alimento padrão considera-se IG baixo quando os valores são iguais ou menores que 55”, relata. A professora acrescenta que, enquanto para a farinha ocorre pico glicêmico inicial nos primeiros 15 minutos da digestão iniciada, com o tablete o mesmo ocorre somente após 30 minutos. A diferença está relacionada à composição dos dois produtos, uma vez que a farinha é composta por alfarroba in natura torrada e moída, e o tablete é similar ao chocolate, contendo lipídios. Os resultados da pesquisa foram publicados na primeira edição de 2015 da revista Nutrición Hospitalaria.
A farinha de alfarroba também possui altos teores de fibras, 93% insolúveis, cuja ingestão tem sido associada ao menor risco de obesidade e a um efeito preventivo contra certos tipos de câncer, em particular os do trato gastrointestinal. O consumo de fibra é amplamente recomendado por especialistas em nutrição por reduzir a assimilação de colesterol no organismo, promover uma limpeza no intestino, retardar o esvaziamento gástrico, reduzir a absorção de gorduras e controlar a taxa de açúcar no sangue. A nutricionista informa, ainda, que alimentos com baixo índice glicêmico, como a alfarroba, promovem uma resposta lenta e gradual nos níveis de glicose. Com isso, oferecem substrato para a microbiota intestinal e promovem sensação de saciedade e melhor controle glicêmico. “Portanto, podem ser consumidos por indivíduos diabéticos ou emDIETAS para controle de peso”, enfatiza.
A professora doutora de Nutrição do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Gilberti Helena Hübscher, acrescenta que a alfarroba possui significativa quantidade de polifenóis, que aumentam a capacidade antioxidante, desacelerando o envelhecimento das células e auxiliando na prevenção de doenças. O alimento também contém carotenoides e minerais como ferro, potássio, fósforo, manganês, cobre, zinco e cálcio, e fontes de ácidos graxos essenciais, como ômega-3 e ômega-6. Devido a todas essas propriedades, a alfarroba já é considerada um alimento funcional. “O fruto também é rico em vitaminas A, C, D, E, niacina, tiamina, ácido fólico e riboflavina, possui aproximadamente 7% de proteínas e, ao contrário do cacau, menos de 3% de gordura”, acrescenta a professora doutora Norka Beatriz Barrueto González, do curso de Nutrição do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Pressão arterial também tem benefício
Embora seja semelhante ao chocolate, com cheiro, textura e sabor parecidos, a alfarroba se aproxima mais de um chocolate meio amargo – que, inclusive, é o mais indicado por ter estudos que indicam, entre outros benefícios, uma capacidade de reduzir a pressão arterial. A professora Norka Beatriz Barrueto González explica que, em termos calóricos, 100g de cacau (pó) contém 406 kcal. A mesma quantidade de chocolate ao leite contém 568 kcal, o chocolate dietético possui 524 kcal, o meio amargo contém 550 kcal e a alfarroba (pó) apenas 346,9 kcal. “Portanto, a alfarroba é a menos calórica das opções e pode, sem dúvida, ser um alimento mais saudável, desde que consumida com moderação”, acentua. Outra diferença em relação ao chocolate é que a alfarroba não contém praticamente qualquer tipo de componente estimulante, como cafeína ou teobromina, substâncias presentes no cacau.
A nutricionista Cláudia Carneiro Hecke Krüger ressalta que, apesar da alta densidade energética, o chocolate também apresenta efeitos benéficos ao organismo, com compostos que podem atuar favoravelmente no sistema cardiovascular. “Assim como a alfarroba que, graças aos compostos fenólicos, torna-se um alimento com propriedades antioxidantes, o chocolate pode ser benéfico ao organismo”, informa. Embora os dois alimentos possuam valores nutricionais similares, a alfarroba tem a vantagem de ser isenta de lactose, glúten e substâncias de origem animal, o que torna seu consumo seguro para indivíduos intolerantes à lactose, celíacos e vegetarianos.
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