Pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostrou que camundongos submetidos a uma dieta muito rica, ao mesmo tempo, em gordura e em açúcar tiveram um aumento da inflamação celular e da resistência à insulina induzidas por essas dietas separadamente. Os dados estão no artigo Combination of a high-fat diet with sweetened condensed milk exacerbates inflammation and insulin resistance induced by each separately in mice publicado em junho na Revista Scientific Report, do grupo Nature.
A pesquisa foi realizada pela professora de educação física Laureane Nunes Masi, durante seu doutorado, sob a orientação do professor Rui Curi, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB.
Os estudos foram realizados com cerca de 50 camundongos, com 12 semanas de idade, separados em quatro grupos e recebendo quatro dietas distintas, durante oito semanas. O grupo controle recebeu alimentação balanceada. Já os outros três receberam dietas que causam obesidade (obesogênicas): o segundo grupo foi alimentado com a dieta controle mais leite condensado (oferecido à vontade, mas em um recipiente à parte); o terceiro grupo recebeu dieta rica em gordura (chamada de hiperlipídica: 59% de calorias em gordura); e o quarto grupo foi uma combinação das duas dietas anteriores (hiperlipídica mais leite condensado).
A dieta que associou açúcar e gordura foi a mais prejudicial entre elas, pois intensificou todos esses malefícios causados ao organismo pelas outras dietas.
Ao final das oito semanas, a pesquisadora constatou que as três dietas que causam obesidade levaram ao aumento de peso dos animais, mas cada uma causou algum tipo diferente de prejuízo ao organismo. Os resultados indicaram que essas dietas levaram à intolerância à glicose, e ao aumento do depósito de gordura visceral, do tamanho das células de gordura, do peso do fígado e do nível de colesterol total, quando comparadas à dieta controle.
A dieta que associou açúcar e gordura foi a mais prejudicial entre elas, pois intensificou todos esses malefícios causados ao organismo pelas outras dietas. Em média, o peso inicial dos camundongo com 12 semanas é de 26 gramas.
Ao final do experimento, o peso médio dos animais do grupo ‘açúcar mais gordura’ era de 42,5 gramas, mais que o dobro.
De acordo com a pesquisadora, o trabalho pode ajudar a comunidade científica que estuda a obesidade induzida por dietas ricas em açúcar e/ou em gordura.
“Observa-se que pessoas obesas apresentam sintomas e desordens diferentes umas das outras. Com esta pesquisa, mostramos que os hábitos alimentares e a ingestão crônica de um ou outro macronutriente é determinante nos malefícios decorrentes da obesidade”, aponta Laureane.
Açúcar
A pesquisadora avaliou alguns tecidos dos animais, como fígado, o músculo esquelético sóleo (na perna), além do tecido adiposo (gordura) e dos macrófagos (células de defesa) da cavidade gastrointestinal. Nos macrófagos, ela observou o aumento de uma substância chamada interleucina 6, que indica inflamação.Animais alimentados com a dieta rica em açúcar, quando comparados aos animais que receberam dieta rica em gordura, apresentaram mais marcadores pró-inflamatórios – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Os animais alimentados com a dieta rica em açúcar, quando comparados aos animais que receberam dieta rica em gordura, apresentaram mais marcadores pró-inflamatórios nos tecidos analisados. “A inflamação, ou processo inflamatório, é uma reação do organismo a uma infecção ou lesão e faz parte do sistema imunológico do corpo. Isso ocorre internamente, nas células e tecidos, sem a gente ver, também em decorrência da ingestão crônica de uma dieta obesogênica”, explica a pesquisadora. “Enquanto na inflamação aguda, frente a uma lesão, por exemplo, observamos os sinais de calor, vermelhidão, inchaço e dor, na inflamação crônica decorrente da obesidade podemos observar aumento de algumas proteínas no sangue e nos tecidos do nosso corpo.”
No fígado, Laureane observou a ocorrência de fibrogênese (excesso de fibras), que corresponde a uma cicatrização do fígado frente a uma lesão. A fibrogênese é uma reação final da esteato-hepatite não alcoólica, doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado. No final da doença, o excesso de gordura se transforma em excesso de fibras, que posteriormente evolui para uma cirrose. “Foi interessante observar que os animais alimentados com dieta rica em açúcar não apresentaram acúmulo de gordura no fígado, mas parecem ter passado direto dessa fase da doença para a fibrose hepática”, diz a pesquisadora. Também foi verificado o aumento do TNF-α (fator de necrose tumoral), uma substância indicadora de inflamação.
Gordura
Já a dieta rica em gordura levou ao aumento da taxa de açúcar no sangue (aumento da glicemia) e foi mais prejudicial para a sensibilidade periférica à insulina. “Os animais foram testados com uma sobrecarga de glicose. Ao longo do tempo, foi constatado que a glicemia não diminuiu como no grupo que recebeu dieta balanceada. Isso indica que a glicose não está sendo bem absorvida, existe uma intolerância à glicose”, esclarece Laureane.Dieta rica em gordura levou ao aumento da taxa de açúcar no sangue (aumento da glicemia) e foi mais prejudicial para a sensibilidade periférica à insulina – Foto: Agência Sinc /URV / CC3.0
Também foi constatado que essa dieta causou o acúmulo de gordura no fígado. A longo prazo, essa condição leva à inflamação e à formação de fibrose, como observado nesse mesmo estudo com a ingestão de dieta rica em açúcar.
Fonte: Usp.
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