Até recentemente, muitos cientistas acreditavam que o exercício reduzia a capacidade do corpo para combater infecções. Estudos anteriores haviam descoberto, por exemplo, que, após exercícios especialmente intensos, as pessoas tinham menos células brancas – as quais combatem infecções – nos seus fluxos sanguíneos, em comparação com antes de se exercitarem, sugerindo um enfraquecimento da resposta imune.
Mas uma nova revisão de estudos indica que a interação entre o exercício e a imunidade é muito mais intrincada do que antes suspeitada. Alguns tipos de exercícios podem dificultar a resposta imunológica, de acordo com a revisão, enquanto outros a reforçam. Encorajadoramente, também parece que algumas precauções simples, incluindo o consumo de carboidratos durante os exercícios exaustivos, podem ajudar a manter nosso sistema imunológico forte.
Para saber mais sobre o que há de mais atual na ciência sobre exercício e imunidade, foi realizado uma entrevista com dois dos autores da nova revisão publicada em Journal of Applied Physiology. Jonathan M. Peake é professor de ciência esportiva na Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, enquanto seu coautor Oliver Neubauer é pesquisador sênior na mesma universidade.
P. Em primeiro lugar, por que o exercício afeta o sistema imunológico?
Jonathan Peake: O exercício é uma forma de estresse. O sistema imunológico responde ao estresse.
P. O que realmente acontece com o sistema imunológico durante um treino?
Dr. Peake: O número de células brancas do sangue aumenta durante o exercício, tanto quanto durante uma infecção. A temperatura corporal sobe e as células imunes se movem dos gânglios linfáticos, do baço, das paredes dos vasos sanguíneos e da medula óssea para a corrente sanguínea. O estímulo aqui não é obviamente infeccioso, mas ele ocorre devido a um aumento dos hormônios do estresse, como cortisol, epinefrina, norepinefrina e hormônio do crescimento, os quais podem aumentar durante o exercício.
P. E depois do exercício?
Dr. Peake: O número de glóbulos brancos na corrente sanguínea, especialmente um tipo de célula que é particularmente boa para combater infecções conhecidas como células exterminadoras naturais (células NK, do inglês natural killer cell), cai rapidamente. As pessoas muitas vezes têm menos células NK em seu sangue após o exercício do que antes de começarem a se exercitar. Durante muitos anos, pensava-se que o exercício estava destruindo essas células e causando imunodepressão.
P. E não está?
Dr. Peake: Agora acreditamos que as células não são destruídas. Em vez disso, é mais provável que elas saiam da corrente sanguínea e sigam para outras regiões do corpo, como os pulmões, intestinos, pele e membranas mucosas do sistema respiratório. Isso ocorre em parte porque podemos respirar ou ingerir microrganismos que acabam nesses tecidos, exigindo uma resposta imune, mas também porque o estresse do exercício causa alterações fisiológicas e bioquímicas dentro desses tecidos. Como resultado, sinais são emitidos a partir dos tecidos para as células do sistema imunológico no sangue ‘dizendo-lhes’ que existe uma ameaça potencial para o corpo lá, assim fazendo as células imunes se moverem para lá.
P. Então, embora tenhamos mais células de combate à infecção na corrente sanguínea durante um treino, muitas delas acabam sendo desviadas depois para outras partes do corpo? Isso pode nos deixar particularmente vulneráveis a infecções após um treino intenso?
Dr. Peake: Sim.
P. E se o exercício é relativamente moderado, como uma caminhada rápida ou uma corrida suave, em vez de um treino mais intenso?
Dr. Peake: Evidências epidemiológicas sugerem que o exercício moderado regular protege contra as doenças respiratórias superiores, enquanto o exercício intenso regular aumenta o risco dessas doenças.
P. Isso porque o exercício moderado provavelmente resulta em menos estresse fisiológico em todo o corpo do que um exercício mais vigoroso?
Dr. Peake: Sim, provavelmente. Os hormônios do estresse que regulam a atividade do sistema imunológico respondem à intensidade e duração. De um modo geral, quanto mais extenuante o exercício, mais tempo leva para o sistema imune voltar ao normal depois.
P. Para pessoas que treinam forte e querem evitar repetidos resfriados, há alguma maneira de manter uma resposta imune saudável?
Oliver Neubauer: A ingestão de carboidratos durante o treino vigoroso pode ajudar, porque os carboidratos mantêm os níveis de açúcar no sangue estáveis, reduzindo a resposta corporal ao estresse, que por sua vez, modera qualquer mobilização indesejável das células imunes.
P. Quanto e quando?
Dr. Neubauer: A maioria das pessoas só precisa de carboidratos durante exercícios de alta intensidade ou prolongados – 90 minutos ou mais de duração. Para elas, entre 30 e 60 gramas de carboidratos por hora durante o exercício pode minimizar os distúrbios imunes relacionados a ele. O consumo de carboidratos nas primeiras horas imediatamente após exercícios extenuantes pode também ajudar a restaurar a função imune.
Fonte: Essential Nutrition.
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