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TECIDO ADIPOSO MARROM ELEVA O GASTO CALÓRICO.

quinta-feira, 12 de maio de 2016
O excesso de peso é tema de diferentes pesquisas ao redor do mundo, que objetivam principalmente encontrar caminhos para acabar com a epidemia de obesidade que, além de prejudicar a saúde, desencadeia diversas doenças. Após inúmeras publicações envolvendo dietas e medicamentos, alguns estudos passaram a ter como foco uma possível arma que está dentro do corpo humano: a gordura marrom. Diferentemente da branca, que armazena lipídio, a gordura marrom tem como característica elevar o gasto calórico e, assim, colaborar com o emagrecimento. Embora as pesquisas para o desenvolvimento de métodos que estimulem ou simulem a gordura marrom ainda sejam embrionárias, já se sabe que é possível aumentá-la praticando atividades físicas de hipertrofia muscular.

O tecido adiposo marrom (TAM) é importante para a produção de calor (termogênese), gerando energia para animais que hibernam, aves migratórias e, no ser humano, para manutenção da temperatura nos recém-nascidos, que não conseguem tremer e se defender das alterações de temperatura. Segundo o médico endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC­FMUSP), os adipócitos do TAM são ricos em mitocôndrias e não têm abundância de gordura como os do tecido adiposo branco (TAB). “A gordura marrom está presente na linha média, próximo à artéria aorta, no tórax e na região cervical, e recebe este nome devido à cor gerada pela riqueza de organelas citoplasmáticas. As mitocôndrias presentes no TAM desviam a energia da oxidação de gordura para gerar calor por meio de uma proteína chamada desacopladora (UCP-1), elevando o gasto calórico. Com o aumento do número de casos de obesidade, o TAM passou a ser pesquisado como um caminho para novos tratamentos contra o excesso de peso”, acentua.

Até recentemente, acreditava-se que a presença de tecido adiposo marrom era importante apenas em pequenos mamíferos e crianças, com relevância fisiológica insignificante em adultos. Além disso, como há a perda acentuada do TAM com o avanço da idade, eram esperadas porções insignificantes da gordura marrom em adultos. Entretanto, pesquisas publicadas em 2009 no The New England Journal of Medicine mostraram que o tecido marrom existe em adultos e pode ser ativado. Além de encontrarem gordura marrom ativa em humanos adultos, os cientistas identificaram diferenças importantes na quantidade, com base em uma variedade de fatores como idade, níveis de glicose e, mais importante, nível de obesidade. “Pacientes mais jovens são mais propensos a ter grandes quantidades de gordura marrom e a mesma é mais ativa quando expostos a uma temperatura mais fria, mantendo o papel de queimar energia para gerar calor”, acrescenta o endocrinologista Marcio Mancini. O tecido marrom também é mais comum em adultos magros e que tenham níveis normais de glicose no sangue, enquanto pacientes que fazem uso de medicamentos betabloqueadores e idosos são menos propensos a ter gordura marrom ativa. 

O médico endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), lembra que há uma grande ligação entre o tecido marrom e a massa muscular, porque a irisina, hormônio produzido pelos músculos com a prática de exercícios, estimula a gordura marrom. “Por isso, a prática em médio e longo prazo de atividades físicas de hipertrofia, como musculação e aeróbico em conjunto, é uma alternativa mais efetiva de aumentar o TAM. O exercício também eleva a frequência cardíaca, o que colabora para a queima da gordura branca. Existem estudos embrionários que visam transformar gordura branca em gordura bege (híbrida), que tem um gasto energético maior que a branca”, pontua. O especialista reforça que, enquanto os estudos estão em andamento, o melhor é continuar cuidando da alimentação e praticando atividades físicas regulares.

Gordura branca
Em maior quantidade no organismo, o tecido adiposo branco facilita a ação da insulina, tem poucas organelas citoplasmáticas e um grande espaço onde os lipídios são armazenados sob a forma de triglicerídeos. A gordura branca também está associada com as doenças relacionadas à resistência à insulina, como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e enfermidades metabólicas, devido ao aumento de triglicerídeos e diminuição do HDL-colesterol. “Este tipo também pode ser classificado como gordura subcutânea e visceral”, afirma o médico João Eduardo Nunes Salles. Chamada de dura, a gordura visceral pode levar, algumas vezes, a um abdômen bastante rígido e endurecido. O problema acomete homens que costumam ter pouca gordura periférica no subcutâneo e, quando engordam, acumulam gordura internamente nas vísceras, como fígado, pâncreas, perivascular e coração.

Esses indivíduos, chamados de magros metabolicamente doentes, podem não ter o índice de massa corporal muito elevado (e até mesmo normal), mas possuem alto risco cardiovascular e de desenvolver diabetes tipo 2. Por outro lado há indivíduos, mais comumente mulheres, com maior capacidade de estocar gordura embaixo da pele, no subcutâneo, nas coxas, nos quadris e braços, que ganham muito peso antes de acumular gordura dentro do abdômen e podem chegar a mais de 100 quilos sem desenvolver doenças cardíacas ou aumentar a glicose no sangue. “Esses são chamados de obesos metabolicamente saudáveis. Entretanto, podem ter osteoartrose, risco de apneia do sono e outras doenças”, alerta o endocrinologista Marcio Mancini.

Estudos atestam benefícios
A publicação ‘Identification and Importance of Brown Adipose Tissue in Adult Humans’, do Joslin Diabetes Center, ligado à Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, encontrou a gordura marrom em 76 das 1.013 mulheres pesquisadas, e em 30 dos 959 homens que fizeram o exame de tomografia computadorizada de alta resolução (PET-CT) por emissão de pósitrons. Os cientistas concluíram que regiões de tecido adiposo marrom funcionalmente ativo estão presentes em seres humanos adultos, são mais frequentes em mulheres e a quantidade é inversamente correlacionada com o índice de massa corporal, especialmente em pessoas mais velhas, sugerindo um papel potencial do tecido adiposo marrom no metabolismo humano adulto.

A pesquisa ‘Cold Activated Brown Adipose Tissue in Healthy Men’, realizada na Maastricht University, na Holanda, fez uma análise sistemática da presença, distribuição e atividade do tecido adiposo marrom sob condições térmicas de 24 homens magros e obesos durante exposição à temperatura fria (entre 16°C e 22°C). O resultado mostrou que a gordura marrom pode ser ativada durante a exposição ao frio, mas a atividade foi significativamente mais baixa nos sujeitos com excesso de peso, em relação aos indivíduos magros.

No artigo ‘Functional Brown Adipose Tissue in Healthy Adults’, da University of Gothenburg, na Suécia, também com uso de PET-CT, os cientistas constataram que a gordura marrom passou a queimar calorias quando os voluntários permaneceram em uma sala com temperatura que variou de 17ºC a 19ºC por duas horas, utilizando roupas leves. Com base nos dados apresentados e nas descobertas anteriores em relação ao metabolismo do tecido marrom, o estudo especula que a ativação da gordura marrom por exposição ao frio pode ser importante em termos de gasto de energia em seres humanos.

As descobertas, particularmente aquelas relacionadas com o índice de massa corporal (IMC), sugerem um papel potencial para a gordura marrom na regulação do metabolismo de peso corporal, indicando que níveis mais elevados de tecido adiposo marrom podem proteger contra a obesidade relacionada com a idade. Os resultados criaram uma esperança para o desenvolvimento de novas terapias capazes de estimular o crescimento do tecido adiposo marrom, para controlar o peso e melhorar o metabolismo da glicose.

Fonte: Yakult.

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