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GRÃOS POUCO CONHECIDOS GANHAM NOTORIEDADE.

terça-feira, 20 de maio de 2014
Hoje, já é consenso que a alimentação não serve apenas para matar a fome e que a comida saudável reflete no bom funcionamento do organismo e pode até mesmo prevenir doenças. Neste contex­to, os cereais, as leguminosas e as semen­tes passaram a fazer parte da dieta diária de muitos brasileiros, que também redesco­briram os chamados ‘supergrãos’, denominação que inclui quinoa, amaranto, edamame, tri­go verde (freekeh), arroz preto e soja pre­ta. Embora não exista uma definição na literatura para a palavra supergrãos, essa designação é utilizada com objetivo de destacar ações bioquímicas benéficas de com­postos bioativos presentes nesses grãos milenares, e também para diferenciá-los nominalmente dos convencionais, como arroz, feijões, aveia, soja e milho.

Os grãos são mundialmente recomen­dados como parte substancial de uma dieta equilibrada por serem ricos em carboidratos complexos, principal fonte­ de energia para o organismo, e em vita­minas, minerais, fibra alimentar e outros compostos bioativos, a exemplo dos anti­oxidantes. A nutricionista Cristiane de Oli­veira­ Lopes, doutoranda em Ciência dos Alimentos pela Universidade Fede­ral­ de Lavras (UFLA), acredita que a re­percus­são dos resultados de alguns estudos demonstrando que a substituição da proteína animal pela vegetal traz diversos benefícios­ à saúde – entre os quais a redução do risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade, arteriosclerose, hipercolesterolemia e alguns tipos de câncer – está impulsionando a população a aumentar o consumo de grãos como alternativa proteica em substituição às carnes, principalmente a vermelha (boi e porco). “Tudo isso se deve à substituição de alimentos fontes de gordura saturada por outras fontes de gorduras insaturadas e poli-insaturadas”, reforça.

A busca por alimentos mais nutritivos instiga pesquisadores a se aprofundarem nos estudos sobre a composição química dos alimentos e, assim, redescobrirem itens milenares com elevada concen­tra­ção de compostos bioati­vos. As inovações tecnológi­cas na área de Ciência dos Alimentos também propiciam detectar com maior especificidade e preci­são compostos químicos nunca analisados. “A inclusão diária de grãos integrais na alimentação fornece maior aporte de nutrientes indispensáveis à saúde. Além disso, em geral são considerados alimentos funcionais, porque, além de serem fontes de nutrientes, ajudam a reduzir a prevalência de doenças cardiometabólicas e intestinais”, reforça a médica nutróloga Marcella Garcez, representante da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).


Essencial na alimentação
Os cereais, juntamente com tubérculos e raízes, são as principais fontes de carboi­dratos na alimentação do brasilei­ro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a participação dos carboidratos no Valor Energético Total (VET) de uma dieta normocalórica deve ser de 55% a 75%. Portanto, no planejamento de uma dieta normoglicídica de 2 mil calorias, os carboidratos disponíveis pelos grupos dos cereais, tubérculos e raízes deverão contribuir diariamente com 225g a 335g, o que implica em um consumo de aproximadamente 321g a 478g de grãos. Em medidas caseiras, esse valor corresponde a 14 colheres e meia (sopa) de arroz integral, por exemplo, ou de um supergrão de cereal qualquer. “O ideal é diversificar os alimentos da dieta entre aqueles que estão no mesmo grupo”, orienta a nutricionista Cristiane Lopes.

As leguminosas são as principais fon­tes de proteínas de origem vegetal. A OMS indica que a participação das proteínas no VET de uma dieta normoproteica deve ser de 10% a 15% e, para atingir essa recomendação, é necessário ingerir de 50g a 70g de proteína diariamente. Considerando que a fonte de proteína seja somente de origem vegetal – no caso de vegetarianos –, mais especificamente grãos de leguminosas, seria necessário ingerir perto de 330g a 460g, ou aproximadamente 14 colheres de sopa de grãos cozidos. Caso a fonte de proteína da dieta não seja unicamente leguminosas, recomenda-se o consumo diário de pelo menos uma porção de alimentos deste grupo, o que equivale a uma colher e meia de soja cozida (36g) ou duas colheres de sopa de grãos de feijão cozido (50g), por exemplo.

Quais são os supergrãos
O amaranto e a quinoa foram consumi­dos por milênios pelos Incas e Astecas até o período da colonização espanhola na América Latina. A cultura foi banida pelos conquistadores pelo fato de o amaranto ser consumido em rituais religiosos, e só ressurgiu nos anos 1960, por suas propriedades agronômicas e nutritivas. “O amaranto, principalmente sua proteína, ajuda a redu­zir o colesterol plasmático de maneira rápida e consistente. Tanto o amaranto como a quinoa apresentam propriedades antioxidantes, interessantes no controle de alguns processos metabó­licos que levam ao aumento do risco cardiovascu­lar. O perfil nutricional destes grãos é superior ao do trigo, milho, arroz e outros cereais muito consumidos, e a introdução de qualquer um dos supergrãos pode deixar a dieta mais rica e saudável”, avalia o professor titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), José Alfredo Gomes Arêas.

O arroz preto, produzido há mais de 4 mil anos na China, apresenta 20% mais proteína e 30% mais fibra que o integral, além de menor teor de gordura e calorias. Segundo a nutricionista Cristiane de Oliveira Lopes, testes realizados nos laboratórios da Food and Drug Administra­tion (FDA), órgão norte-americano de controle de alimentos e medicamentos, constataram que o arroz preto contém concentração de compostos­ fenólicos 10 vezes maior que o branco. Com isso, é rico em antioxidantes, substâncias essenciais para o sistema imunológico que protegem as células dos ra­dicais livres. “A antocianina encontra-se dentre os principais antioxidantes, e este é um pigmento escuro que confere a cor ao grão”, informa.

O freekeh, ou trigo verde, originário da Síria e cultivado há mais de 10 mil anos no Oriente Médio, é rico em nutrientes e bastante utilizado na culinária árabe. O conteúdo proteico do freekeh é, em média, de 12%, bem superior ao arroz integral, com cerca de 7,7%. O freekeh também apresenta elevado teor de fibra alimentar. “Além disso, possui amido resistente, que passa pelo trato gastrointestinal de indiví­duos saudáveis sem ser digerido pelas enzimas e, ao chegar no intestino grosso, serve de substrato para fermentação de bifidobactérias intestinais, sendo por isso considerado prebiótico. Dentre os produ­tos gerados na fermentação estão os ácidos orgânicos, que acidificam o pH do intestino favorecendo a vasodilatação e o aumento da absorção de água e minerais, melhorando a sintomatologia de indivíduos com diarreias”, enfatiza a nutricionista.

O edamame, produzido principalmen­te no Japão e consumido na Ásia há séculos, é a vagem da soja, com aproximadamente 80% de amadurecimento. O grão possui vitamina C, ausente na soja madura, mas o principal diferencial é que contém baixos níveis de inibidor de tripsina, um antinutriente presente na soja que reduz a biodisponibilidade da sua proteína. Quanto menor o teor de inibidor de tripsina no alimento, maior vai ser a absorção da proteína no organismo. Já a soja preta apresenta a mesma distribuição de macronutrientes que o grão amarelo, porém, com o dobro de atividade antioxidante, mesmo após o cozimento. A atividade antioxidante ocorre devido à maior concentração de compostos fenólicos, flavonoides e à presença de antocianinas, só encontradas na soja preta”, completa Cristiane de Oliveira Lopes.
 
Fonte: Yakult,  Com alto valor nutricional, grãos pouco conhecidos ganham notoriedade. Acesso em 20/05/2014.

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