Couve-manteiga, mostarda, couve-flor, couve de Bruxelas, rúcula, acelga, agrião, rabanete e brócolis são alimentos bastante conhecidos e estão presentes na dieta da maioria dos brasileiros. Pertencentes à família Brassicaceae, esses vegetais recebem o nome de crucíferos por possuírem o formato de cruz na superfície das folhas, e chamam a atenção pelo alto valor nutricional, com destaque para a presença de teores significativos de vitamina C, magnésio, cálcio, ferro e carotenoides com efeito antioxidante, além de possuírem baixo teor calórico. Os crucíferos também possuem componentes que podem ajudar a prevenir alguns tipos de câncer, a exemplo de mama, pulmão, próstata e estômago.
O pesquisador Marc Riedl, da Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, descobriu que o sulforafano, composto encontrado nos vegetais crucíferos, desencadeia o aumento de enzimas antioxidantes nas vias aéreas que protegem contra a ação dos radicais livres inalados, evitando doenças respiratórias inflamatórias como asma e rinite alérgica. Segundo a nutricionista Kettelin Arbos, professora doutora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tanto a vitamina C como carotenoides, flavonoides e glicosinolatos presentes nesses vegetais têm propriedades antioxidantes, e estudos recentes indicam que alguns glicosinolatos têm ação hipocolesterolêmica, reduzindo o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. “Os glicosinolatos extraídos desses vegetais possuem, ainda, efeitos na redução do risco do desenvolvimento de câncer”, enfatiza.
Há uma grande variedade de glicosinolatos nos vegetais crucíferos e os teores dependem não apenas do vegetal, mas também da parte da planta (flor, folha, caule), clima do cultivo e solo, entre outros. Nos vegetais, os glicosinolatos estão relacionados à defesa contra insetos e aclimatação a temperaturas mais elevadas, mas, para que tenham ação anticarcinogênica e antioxidante no corpo humano e se tornem um composto biologicamente ativo – isotiocianato –, os glicosinolatos precisam ser hidrolisados pela enzima mirosinase, que só é liberada durante o processamento dos vegetais por meio do corte, cozimento, congelamento ou mastigação.
A enzima e os compostos são muito sensíveis às altas temperaturas e solúveis em água, por isso, o cozimento dos vegetais também tem grande importância para promover os efeitos benéficos. “O ideal é cozinhar no vapor ou deixar por apenas três minutos em água fervente, sendo recomendável reaproveitar a água do cozimento”, ensina a pesquisadora e farmacêutica Patricia Bachiega, professora substituta da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e doutoranda na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP).
Mesmo sendo o responsável pelo efeito protetor contra o câncer, o composto biologicamente ativo isotiocianato já foi considerado vilão, por interferir na síntese do hormônio da tireoide ou competir com a captação de iodo pela glândula. No entanto, a pesquisadora Patricia Bachiega ressalta que somente o consumo regular não causa nenhum efeito adverso, podendo apenas ocasionar gases. Entre todos os crucíferos, o brócolis tem destaque pelo maior teor de glicosinolatos e maior efeito biológico. Uma porção de cerca de 100g de brócolis contém mais de 10g de glicosinolato, mas apenas 20% é convertido no composto biologicamente ativo. Já os brotos de brócolis têm o teor de glicosinolatos 100 vezes maior.
Coquetel contra o câncer colorretal
Pesquisadores da Escola de Medicina Yong Loo Lin da Universidade Nacional de Cingapura, liderados pelo professor Matthew Chang, encontraram uma maneira de transformar um coquetel de bactérias e vegetais em um sistema direcionado que procura e mata as células cancerígenas colorretais. Usando técnicas genéticas, a equipe projetou o probiótico E. coli Nissle para que se ligasse à superfície das células cancerígenas colorretais e, assim, secretassem a enzima mirosinase para converter os glicosinolatos ingeridos pelo hospedeiro em sulforafano, uma pequena molécula orgânica com atividade anticancerígena conhecida.
A ideia era que as células cancerígenas nas proximidades interagissem com esse agente anticancerígeno e fossem mortas. As células normais não podem fazer essa conversão, nem são afetadas pela toxina, portanto, o sistema deve ser direcionado apenas para as células cancerígenas colorretais. Os microrganismos manipulados acoplados a glicosinolatos resultaram em mais de 95% de inibição da proliferação de células cancerígenas colorretais. A combinação de probióticos e vegetais reduziu o número de tumores em 75% em camundongos com câncer colorretal, e os tumores que foram detectados nesses animais foram três vezes menores do que nos controles que não foram alimentados com a mistura.
Fonte: Yakult.
0 comentários:
Postar um comentário